A folha em branco me era um dedo apontado.

Comecei esse mesmo texto de um jeito completamente diferente durante essa tarde. Parei na metade porque o achei ressentido demais, cheio de dedos apontados que não significavam nada além do que um dedo apontado sempre é: eu mostro o que me incomoda ali, e esqueço de notar o quanto daquilo existe aqui. Então é com o dedo apontado para mim que vou reescrevê-lo.

Sempre gostei de folhas (virtuais ou reais) em branco. Pautadas, sem pauta, decoradas ou não, a possibilidade de um espaço vago pronto para ser preenchido com qualquer coisa que eu escolhesse sempre me encantou. É por isso que tenho esse blog, por isso que já tive tantos outros, e por isso que no decorrer dos últimos dois anos, quando muitos dos blogs pessoais foram desativados, eu permaneci. Não importava a comunidade, importava o meu bem-estar individual, e escrever, afinal de contas, sempre foi sobre isso: é legal ter quem leia, mas todo o processo é mais meu que do outro.

No inicio desse ano, como comentei aqui, entrei na faculdade, mais especificamente em um curso de ciências da saúde. Foi quando minha relação com a escrita (essa que exponho na internet com a única pretensão de ouvir alguém dizer que entende, e que vai passar) desandou um pouco, não só -- muito, na verdade --, pelo tempo que o curso me toma, mas também por sentir que a minha carteirinha de "escritora de blogs não levados a sério nas horas vagas" pudesse ser tirada de mim. Eu não me encaixava mais tão dentro do que a maioria das autoras de blogs com formato semelhante ao meu eram. Eu não estava em um curso das humanas, da comunicação. Não me via tão refletida na Rory Gilmore no meu caminho acadêmico, mas as semelhanças com a Paris Geller eram altas. As músicas novas de tal cantora pop passaram despercebidas por mim, mas eu era a única surtando com a volta dos Jonas Brothers. Eu tinha muito a falar sobre a vivência em um campus todo da área da saúde, sobre todos os dias sair da periferia de São Paulo e ir estudar na universidade pública lotada de gente que não vive entre esses dois lados tão diferentes de uma mesma cidade, sobre sair do ensino médio na escola pública e só agora entender realmente o quanto tudo aquilo é errado e como eu queria poder ajudar cada um que entende isso e que quer mudar. Meus personagens preferidos não eram mais sempre os mesmos que os exaltados no mundo virtual dos blogs, as músicas, os enredos, cada caminho dado que parecia ser essencial para se poder escrever algo por aqui, tudo estava diferente. 

Volto a virar o dedo pra mim. Quem me disse que eu precisava estar em sintonia com outras pessoas, de outros blogs? Quando me disseram que só valia a pena se eu gostasse das mesmas coisas? É claro que ter assuntos em comum sempre melhora a interação, mas existem tantas outras pessoas com assuntos diferentes que podem me fazer companhia. 

Abri minha folha em branco, voltei a escrever. 


© Limonada
Maira Gall