Escuto um Tic Tac.



Quando criança sempre achei estranho ser contrariada por querer crescer. "Quando eu crescer..." e logo alguém me interrompia para dizer que crescer não era bom, que eu deveria aproveitar o meu pouco tamanho porque depois tudo seria mais difícil. Engraçado, todas as pessoas que diziam isso já eram grandes, claro que elas vão me dizer para não querer isso, elas não queriam que eu competisse com elas, sem falar que se crescer fosse assim tão ruim isso não iria acontecer naturalmente, com certeza algum cientista ou gênio daria um jeito de nos fazer parar com essa "mania de grandeza".

E o tempo passa, os anos correm, os dias viram noites e as noites viram dias. Sem perceber você cresceu e agora entende tudo. O problema não é ter pouco tempo para muitos afazeres, o problema é ter muitos afazeres.

De um lado sua família te cobra um namoro, do outro seu chefe te cobra no trabalho e de repente você se pega pensando em deixar o emprego de lado. Melhor estar em casa com paciência de sobra, do que em um local cheio de cobranças de hora em hora, até que a voz interior sussurra: sem emprego não há dinheiro, sem dinheiro não há encontros de um possível namoro. O tic tac continua.

Também te cobram os estudos, e você percebe que trabalhar e estudar é muito desgastante. Mais uma vez você pensa em abrir mão do emprego, melhor ter horas para estudar do que fazer atividades que na verdade não vão te beneficiar em nada em troca de um salário no inicio de cada mês. "Ah é, o salário!". A voz interior sussurra: sem emprego não há dinheiro, sem dinheiro não há estudos. O tic tac segue.
Você cresceu.
A sua mania de grandeza também cresceu.
E o tic tac? Continua.

Só acontece comigo #21


O Só Acontece Comigo de hoje na verdade ia passar despercebido, até que graças ao maravilhoso site Twitter lembrei o ocorrido e agora aqui estamos.

Como vocês já sabem (até porque eu falo em todo post, não tem como não saber) esse ano comecei a fazer um curso extensivo pré-vestibular. E como é da minha vida que estamos falando, é óbvio que coisas estranhas iriam acontecer.

Não tive tanta dificuldade pra me enturmar com a sala porque um amigo de escola também está fazendo, o que facilitou muita coisa, porque quem falava com ele automaticamente falava comigo então pela primeira vez na vida eu não demorei seis meses para me enturmar. Porém, um aluno não muito dotado de vontade própria para socializar não teve a mesma sorte. Por duas ou três semanas meu amigo e eu sempre víamos o tal cara esquisito, andando sozinho, mexendo no celular, comendo miojo, sentando no fundo da sala e chegando atrasado constantemente; dotados por um incrível sentimento de empatia pelo próximo, decidimos nos aproximar. Segue o primeiro diálogo:

- Você é da nossa sala, não é? - Diz meu amigo, jurando ser uma boa atitude a se tomar.
- Sou sim, já vi vocês por lá.
- Meu nome é Fernando, essa aqui é a Tati. Mas e ai cara, quer fazer que curso?
- Direito.
- Vai ter que estudar, hein! - meu jeitinho de tentar ser simpática.
- É, vou sim! Sabe cara, to aprendendo a não mentir mais, descobri que ao invés de mentir eu tenho que omitir a verdade! - começa a rir enquanto assopra seu miojo.

Dia 2. 

- Velho, minha irmã é tão idiota!
- Ela é mais velha? - eu disse enquanto bebia meu chá de todos os dias.
- Não, tem dez anos. Mas eu aprendi a demonstrar que não me importo com as coisas lendo Diário de um Banana e ela também leu o livro e ainda não percebeu isso, que burra!

Sem falar das inúmeras vezes em que ele faz comentários bem ruins que na mente dele são engraçados sobre a matéria que o professor está passando.

Ou do quanto o óculos dele é torto e a gente já falou pra ele ir arrumar numa ótica mas o cara insiste em dizer que o problema é o nariz dele ser torto.

Tem também momentos em que ele deixa de prestar atenção na aula pra desenhar.
Não sei vocês, mas quando a pessoa se inscreve em um cursinho pré-vestibular é pra ESTUDAR.

Dica do dia: prefira ser o cara estranho, do que ser a pessoa dotada de empatia que puxa assunto com ele. É assustador.
© Limonada
Maira Gall