Eu existo. | BEDA #26

Em uma parte do meu self-image de 2014 escrevi: "Eu ando pelas ruas querendo que não me notem e paro nos lugares querendo que me notem [..]", e de todas as coisas sinceras que já desabafei aqui, essa é uma das que parece nunca mudar. No ensino fundamental sofri bullying, então é normal que eu não queira ser notada, ou que me sinta um pouco menos que todas as pessoas, mas assim como em 2014, junto dessa vontade enorme de passar despercebida carrego o desejo do mesmo tamanho de ser notada. 

Durante essa semana, sentada na escada com uma amiga durante o intervalo, nossa professora de Genética passou e parou pra me abraçar e beijar, e aproveitou pra perguntar se por acaso eu ficava incomodada com as piadas que ela faz em sala de aula. Como professora de Genética, ela nos ensina a fazer cruzamentos (Aa, Bb, QUEM LEMBRA?) e ai sempre tem a brincadeira do "Estão cruzando muito?", como eu ouço essa piada desde o ano passado, acabo só dando um risinho simpático, e ela, percebendo isso, quis me perguntar se estava tudo bem. Eu sento em uma área próxima à ela? Não, não sento. Ela consegue me ver em uma sala com mais de 60 pessoas? Consegue, e se preocupa com o que eu acho da aula dela. Eu existo, eu sou notada.

Também nessa semana, em uma biblioteca, um senhor sentado em uma mesa próxima a minha perguntou se eu tinha uma caneta azul para emprestar, respondi que sim, a entreguei e continuei meus estudos. Depois de algumas horas, notando que eu estava fechando minha mochila pra ir embora, ele me perguntou:

 - Vou ficar sem a caneta, né?

Eu, vendo que ele realmente precisava dela e completamente tomada pelo espírito Amanda Palmer de conduzir a vida deixei que ele ficasse com a caneta, recebi um olhar surpreso em resposta, um muito obrigada, e um "Qual a sua graça?" que precisou de muita maturidade da minha parte pra realmente dizer meu nome ao invés de fazer uma piadinha com a expressão. Eu existo, eu sou notada.

Na semana passada senti falta da minha carteirinha estudantil na sexta à noite, esperei até essa semana pra voltar ao cursinho e quando passei pela catraca pedi para o segurança abrir o portão e expliquei o ocorrido, depois lembrei de ver com a coordenadoria se alguém tinha achado e a encontrei. No dia seguinte, quando cheguei, o mesmo segurança me perguntou se eu havia a encontrado, respondi que sim e ele contou que lembrou de dizer sobre a coordenadoria depois que eu já tinha saído. Eu existo, eu sou notada.

Sei que é ridículo pensar que as pessoas não me veem, mas pra quem sempre esteve acostumada a observar e decorar os rostos das pessoas sem nem saber seus nomes é estranho saber que eu estou aqui, sendo vista.

 

Comentários

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  1. Que texto sensível e bonito, Tati. Me deu um sentimento de proteção em relação a você. Essa coisa de ser notada é realmente um dilema. Mas ei, você merece ser notada e é importante que você veja que sim. Porque as vezes achamos que somos invisíveis quando somos incríveis e únicos e todos merecem a chance de serem conhecidos.

    Continue escrevendo coisas assim pra te relembrar.

    beijos :)

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  2. Demorei pra vir aqui porque precisava de tempo pra dizer que teu post me tocou demais. Tati, ce existe sim!! E aqui do outro lado da internet nós estamos vendo. O pior é que às vezes nós mesmas não conseguimos nos enxergar, eu acho. Eu queria demais te abraçar, porque volta e meia me sinto nessa mesma espiral de passar por aí querendo ser despercebida e depois querer que todos me olhem. Por que a gente é assimmmm? Mas menina, vc existe. <33

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  3. Muito legal esse texto. É muito legal quando um pequeno gesto pode nos deixar mais felizes. Pode parecer coisas simples, mas são essas que importam! ♥
    Beijos, Aline
    Verso Aleatório

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