Não sei o que desencadeou toda essa leveza que busco - e percebo estar acontecendo - cada dia mais na minha vida, mas de uns tempos pra cá até quem me vê na fila do pão sabe que eu deixei muita coisa ruim pra trás, em seus mais variados significados e formas. O apego sempre foi das minhas fraquezas a maior, não que apegar-se seja ruim, pelo contrário, discordo completamente da ideia de que pra ser feliz é preciso ser desprendido desse sentimento, mas no meu caso era frustrante, porque eu simplesmente não sabia o momento de deixar acabar, e isso envolvia amizades, paixões, músicas e principalmente papeis. Sempre acumulei muitos papeis, desde diários até cadernos do ensino fundamental, era a minha forma de relembrar o passado - como se todas as lembranças já não me pertencessem, como se presente e futuro não fossem mais esperançosos e sólidos do que aquilo que já passou. Tudo isso causava insegurança e um pessimismo que me impediu de conhecer muitas coisas boas por anos.
Na semana passada decidi me livrar dos cadernos que ainda guardava do ensino médio, e só então entendi a importância de deixar ir (independente do que seja) o que antes servia e hoje não cabe mais em nada do que faz parte de quem você é. Os cadernos eram personalizados, eu imprimia imagens de coisas que gostava na época e encapava com papel contact, e quando olhei as bandas que estavam ali, as cenas de filmes e aquela letra que hoje também não é mais a minha, percebi que não adianta manter guardado algo que já nem te lembra mais nada.
E quantas coisas além de cadernos eu guardei esses anos todos? Sentimentos bons (e ruins) que se encerraram junto com ciclos que sempre tiveram data certa pra acabar - e a gente sempre sabe que o fim chega, só não quer dizer isso em voz alta. Brigas sem fundamento nenhum que não deveriam ter se estendido até hoje, pessoas que mantinha do meu lado por conhecer há muito tempo e não queria aceitar quão tóxico era trocar um mísero "Oi", bandas que já não me davam mais prazer nenhum em ouvir, camisetas que não passavam nada a meu respeito para quem me via pela primeira vez, textos escritos em momentos difíceis, redes sociais que não aguentava manter.
Eu disse adeus. E doeu mais ter demorado tanto a fazê-lo, do que de fato tê-lo dito. Eu, que nunca sei negar algo pra alguém, que nunca sei encerrar o que desgasta, que me coloco mais em segundo plano do que em primeiro aprendi a andar sozinha, sem carregar bagagens que não usava mais.
Já faz meio ano que comecei a me despedir, e todos os dias eu encontro novas malas - em sua maioria mais leves - pra carregar.
Eu acho que aceitar que certas pessoas já não cabem mais nas nossas vidas é a parte mais difícil. Eu tinha muito esse sentimento, até perceber que eu não estava fazendo um favor pra ninguém e que deixar partir não queria dizer esquecer ou ignorar. As memórias ficam pra sempre porque, ainda bem, o passado a gente não pode mudar ;)
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