A primeira vez que peguei um Uber foi com o R.
R. era um homem de estatura média, branco, de cabelos claros arrepiados que combinavam perfeitamente com suas bochechas carnudas. Sem saber direito como agir, pedi licença ao entrar no carro e ele confirmou os dados que já estavam no aplicativo depois de me dar boa noite. Como era um domingo, R. estava acompanhando o jogo de futebol pelo rádio, mas por algum motivo, depois de uns três minutos em silêncio tirou do jogo e colocou uma música do Ed Sheeran enquanto cantava junto, o que fez eu me questionar se por acaso tenho cara de quem ouve as músicas do cantor ou se ele realmente o fez por vontade própria.
Nesse mesmo momento R. abaixou um pouco o volume e perguntou se eu já estava acostumada a utilizar o serviço. Respondi que era a primeira vez e ele sorriu enquanto dizia "Que privilégio! Você vai gostar!" e dali em diante fomos conversando até meu local de destino. R. me contou onde mora, falou que era a primeira vez trabalhando na minha cidade, conversamos sobre os desentendimentos com os taxistas e sobre pessoas que saem de baladas e entram no carro dele felizes demais. Quando sai do carro R. não deu partida até eu entrar onde devia e buzinou como despedida.
(***)
A segunda vez foi no mesmo dia, para voltar. Dessa vez conheci C., um pouco mais velho que R. e mais introvertido. Se perdeu ainda perto do lugar em que me pegou e dirigiu com mais cautela, também perguntou se era a primeira vez que utilizava o serviço e contei que era a segunda. Ficamos mais tempo em silêncio, até que ele perguntou se o nome que havia chamado o carro era do meu pai, respondi que sim, e em um momento de descuido, ele estranhou eu não morar naquela casa, respondi com um "Moro com minha mãe..." o deixando sem graça pela pergunta que fez, e talvez para quebrar o clima, C. insistiu para que eu pegasse algumas balas. C. não só esperou eu entrar em casa como também não deu partida no carro até eu sair da minha garagem.
Depois de R. e C. ainda conheci outros motoristas que mesmo brevemente, me fizeram ver como conexão não é sobre intensidade, e sim sobre estarmos todos ligados por coisas mínimas, corriqueiras, que passam facilmente desapercebidas pelos olhos. Que todos os dias sejam uma demonstração do quanto pessoas podem ser impactantes, apesar de tão diferentes.
Depois de R. e C. ainda conheci outros motoristas que mesmo brevemente, me fizeram ver como conexão não é sobre intensidade, e sim sobre estarmos todos ligados por coisas mínimas, corriqueiras, que passam facilmente desapercebidas pelos olhos. Que todos os dias sejam uma demonstração do quanto pessoas podem ser impactantes, apesar de tão diferentes.
Que texto mais bonito sobre algo extremamente corriqueiro. É legal poder extrair esse tipo de reflexão "de mesa de bar" de situações que passam e acontecem "sem a gente ver". :)
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Conheci teu blog recentemente, através de clicks e mais clicks, e adorei a abordagem divertida e descompromissada logo de cara. Já tá no blogroll, lista de leitura, bloglovin, seguidos e a tralha toda porque amei, porque quero, porque sim. =)
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Tive que excluir e repostar o comentário corrigido por motivos de não sei lidar com meus erros de digitação/escrita sem morrer de agonia antes. Deve ser o famigerado TOC.
Grata pela atenção, fui.
Muito legal esses dois momentos do cotidiano. Eu andei de Uber apenas uma vez, foi bem tranquilo, mas depois fiquei com medo de não ter a mesma sorte.
ResponderExcluirBeijos
Eu sempre tive experiências positivas no Uber também (ao contrário dos taxis, que podem ser bem grosseiros). Mas acho que é sorte mesmo porque já ouvi histórias terríveis com motoristas do Uber, então... Boa sorte pra gente! Adorei a reflexão. <3
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