Nós existimos: 23 de Setembro, dia da visibilidade bissexual.



Gosto de enxergar as relações entre dois significados do dia 23 de Setembro: o início da primavera, que mesmo podendo ser vista como o meio termo entre o inverno e o verão, a dicotomia das duas estações, possui suas próprias características que a tornam uma estação tão colorida e florida, e o dia da visibilidade bissexual, que assim como a primavera, não se trata de nenhum meio termo, mas de uma sexualidade bem definida, com suas próprias características e que mesmo sendo encarada por muitos como a confusão, é simplesmente a certeza de se conhecer o suficiente a ponto de se mostrar muito além do que uma breve olhada pode ver. 

Tenho a viva lembrança da primeira vez em que minha sexualidade se fez clara, mesmo que eu, sem saber da possibilidade de sentir atração por homens e mulheres, a tenha ignorado. Eu era só uma pré-adolescente sem a mínima noção de mundo, muito menos do meu espaço nele, e quando me vi sentindo o coração palpitar por uma garota -- coisa que até então só tinha acontecido com meninos, mesmo que de forma muito inocente --, bloqueei completamente aquilo e me recusei a entender o que era, porque durante todo o meu crescimento só tive contato com um mundo formado por (muitos) heterossexuais e homossexuais, sem ninguém que pudesse me apresentar à sigla B do LGBTQ+. 

Anos mais tarde, durante o ensino médio, me vi apaixonada por uma garota, e mesmo assim continuei sem me entender, porque na minha cabeça, aquilo só podia significar que eu era lésbica. Meus amigos, que ou eram homossexuais ou heterossexuais, costumavam fazer muitas piadas de mal gosto com a bissexualidade alheia, e sim, grande parte da galera lésbica/gay não é a favor da nossa representação, mesmo que estejamos lado a lado na mesma sigla. Anos após esse episódio, me apaixonei por um garoto e finalmente deixei de lado o que os outros estavam dizendo pra me assumir como sempre fui: um ser capaz de amar, seja uma mulher, seja um homem.



O dia 23 de Setembro é para mim, uma data para lembrar que meus sentimentos são tão válidos como quaisquer outros, e que não devo ser inviabilizada por não estar dentro de uma caixa que há muito tempo foi tida como único modelo possível de vida. A luta para se compreender é diária, muitas vezes esmagada por comentários maldosos, mas ninguém pode me dizer qual o jeito certo de amar, muito menos quem devo amar.

Coisas que já passei por ser uma mulher bissexual:

  • Pessoas LGBTQ+ me questionando porque antes eu estava com uma garota, e no momento me encontrava "com um pau" (porque pra eles, pessoas são só isso, e não seres por quem me sinto atraída por coisas que vão muito além);
  • Ser chamada de indecisa;
  • "Amigos" homens se oferecendo para participar da minha relação com uma mulher;
  • Esconder minha sexualidade de amizades recentes para evitar os questionamentos; 
  • Ser relacionada à imoralidade;
  • Ouvir de pessoas que não sabiam sobre minha sexualidade, que jamais namorariam alguém bissexual, por que seriam duas vezes mais chances de ser traído, como se isso não dissesse respeito à moral do seu cônjuge, e sim a sexualidade dele; 
  • Ouvir que aparentemente eu nunca tinha tido um relacionamento sério, por na época, ter namorado uma mulher, e não um homem;
  • Ouvir que era apenas um momento de descoberta da adolescência, de pura curiosidade;
  • Ser tida por casais héteros como uma possível experiência a três; 
  • Ser tida ou como lésbica ou como hétero nos dois relacionamentos que tive, já que ambos duraram anos e aparentemente isso acaba com a minha bissexualidade;
  • Levar fora de amiga hétero que ao descobrir minha sexualidade, entendeu que as chances de eu estar atraída por ela eram altas (nunca foram);
  • Ter que entregar a carteira de bissexualidade pra algum(a) hétero que precisava da minha aprovação pra saber se era ou não bi. 

Personagens da ficção que estão representando a bissexualidade nas telinhas:


  1. Callie Torres, de Grey's Anatomy (cuja atriz, Sara Ramirez, também se assumiu); 
  2. Rosa Diaz, de Brooklyn Nine-Nine;
  3. Darryl, de crazy Ex-Girlfriend;
  4. Simon, do livro Carry On, da autora Rainbow Rowell.




I'm g-g-gettin' bi. Getting bi.
And it's something I'd like to
Demystify. It's not a phase.
I'm not confused. Not indecisive.
Don't have the gotta choose
Blues! I don't care if you wear
High heels or a tie. You might
Just catch my eye.

Comentários

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  1. Eu sou bi e as pessoas acham que estou a brincar pois estou em um relacionamento com um homem a quase 5 anos. As pessoas não entende que ser bi e gostar tanto de homem e mulher, não é porque estou a namorar um homem que me tornei hetero, não é porque estou a namora a uma mulher que me tornei lesbica, simplesmente sou Bi.
    Ja me aconteceu de uma menina quando descobriu que sou bi me chamar para fazer sexo a três, as pessoas acham que porque somos bi vamos aceitar e gostar de fazer sexo a três.

    Com carinho Renata Prado | LuArtico |

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  2. Bacana você trazer esse assunto pro blog, com toda certeza ser bi tem suas características únicas.

    https://heyimwiththeband.blogspot.com/

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  3. Isso é muito verídico.
    Essa questão de ser traído não faz sentido nenhum. Ou você é fiel ou não é, independe que gênero(s) te atrai(atraem).
    Sobre amigas que acham que você está afim dela só porque também sente atração por garotas, também não faz sentido nenhum, já que mulheres também são amigas de homens heterossexuais e nem por isso ficam o tempo todo questionando a amizade deles. Acho patético.
    Também escutei que era fase, indecisão.
    No começo achava que era lésbica, até lá pelos meus 15 anos quando me apaixonei por um cara (já tinha antes, mas era platônico e sem nenhuma atração) e gostei, além dele, do seu corpo. Tipo, até então, eu já tinha me apaixonado por garotos e garotas, mas só o corpo de mulheres me atraiam. Já namorei dois caras e por isso acho que minha bissexualidade fica "invisível" aos olhos do resto do mundo. Mas acho que é uma questão de caminhos e pessoas que a gente conhece e acaba se conectando.
    Esse dia é importante para lembrar que o B de LGBT não tá ali de enfeite.
    Grata pelo post, maravilhoso.

    Com carinho, Beca;
    Café de Beira de Estrada

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  4. Gostei muito do seu post, acho que sua experiencia pode fazer com que outro bissexual não se sinta sozinha e ajuda os héteros a entender melhor como as pessoas bi se sentem.
    Esse comentários acho abusivos, principalmente de um homem achar que tem direito de querer duas mulheres no ato sexual, acho isso ridículo.

    Emy-lee Cosplay

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  5. Gostei muito de ler o seu post. Infelizmente há discriminação em todo lado. Sinceramente não sei o que eu sou, mas me cansei de tentar descobrir. Não me incomoda tanto assim. Um dia as respostas vão aparecer e tudo fica claro na minha cabeça. Acredito que um dia vou me entender~ por enquanto digo simplesmente que sou hetero até ao momento, ja que evita muita problemática. Se um dia acontecer algo que ponha em causa então eu logo vejo xd mas, pessoalmente, a ideia de pansexual me atrai, acho que é algo com o qual me identifico um pouco.
    Muitas felicidades ! ! Beijinhos da Ani

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  6. Simmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm, foi o nosso dia!
    Eu também ligo muito com o início da primavera, e é a minha estação favorita!
    SOU MUUUITO BI AAAAAAAAAAA

    Com amor, ♥ Bruna Morgan

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  7. Seu post me fez sentir muitas coisas. A primeira, foi admiração. Amei a relação que você fez entre a primavera e o dia da visibilidade bissexual. A segunda foi raiva, e continuo com vontade de socar todas as pessoas que falaram essas merdas pra você. E a terceira foi identificação. Na adolescência eu tive vários problemas com a minha sexualidade. Nunca fui vaidosa, então eu achava que podia ser lésbica por causa disso (hoje eu sei que não tem nada a ver uma coisa com a outra, mas na época isso era um big deal). Nessa fase os julgamentos são muito pesados e a gente tem várias questões e quase ninguém com quem falar sobre elas. Falar sobre isso é importante!

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  8. Tati, que HINO de post. Eu me identifiquei muito, porque sou bissexual, também. E já ouvi essas coisas várias vezes: heteros querendo se intrometer na relação, falando que cabe mais um, já que sou bi (?) wtf. Já me chamaram de indecisa, também. A real é que se eu gostar MUITO da pessoa e bater intelectualmente com ela, eu já consigo me envolver e me apaixonar. Não reduzo a pessoa a um órgão, sei lá. Puxa, é foda que eu vejo uma galera LGBT com preconceito com gente bi. Porque eles acham que se não tiver um gráfico 50% homens e 50% mulheres (seja lá o que isso signifique) então começam a tirar sua "carteirinha"de bi :/ E, gente, sei lá. Eu fico mais com homens, mas quando encontro uma mulher que acho incrível, eu já quero ficar com ela e namorar etc. Mas meus amigos me acham mais "hetero" por isso. Vai entender.
    Esse post ficou um ícone, mana <3 amei muito. É um dia de maior visibilidade mesmo :) pra gente celebrar o amor em suas várias formas.
    Beijo <3

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  9. Me senti extremamente representada e contente ao ler esse post. A confusão acerca da nossa sexualidade é algo extremamente difícil para lidar, porque tamanha é a ignorância ao nosso redor que mesmo sabendo que somos perfeitamente capazes de amar homens e mulheres e que tudo só depende do quanto as vibes baterem e a atração rolar, a dúvida externa faz brotar a interna e aí tudo desanda.
    Gratidão por ter compartilhado sua experiência!

    Com carinho, Nina Elyard.
    https://entremcc.blogspot.com

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