Uma parte de mim vai embora

Daqui.


Quando meu pai ainda morava comigo, poucos meses antes de tudo explodir e mudar, ele comprou uma escrivaninha para colocar no meu quarto. Era bem barata, e consequentemente, de um material não muito bom. Ele tentou montar pra mim, ficou, como em muitas outras vezes, bravo por não conseguir, e no final quem montou ela de verdade foi minha mãe. Como o material já não era dos melhores e a primeira tentativa de montagem o prejudicou um pouco, ela nunca ficou perfeita (a verdade é que eu sequer podia usá-la, já que corria o risco de desabar). Mesmo assim, desde 2015 ela ocupava um espaço no meu quarto. Quase como uma memória física do que já foi e se foi. Depois da melhora, nesse ano eu a destruí. Alguém levou as madeiras embora. 


(***)


Na cozinha o problema era a mesa. O erro foi o mesmo: uma compra virtual barata até demais. Ele também tentou montar. Não deu certo. Passamos todos esses anos jantando em cadeiras duras e uma mesa enorme que a qualquer movimento mais forte podia sair do lugar. Juntei dinheiro. Comprei outra. 


(***)


Fiquei anos prestando vestibular para um curso que eu jurava querer muito e via como a solução pra cada sentimento ruim que eu tinha. Por muito tempo eu deixei até que o tal curso nunca de fato cursado definisse a minha personalidade. Esse ano, depois de perceber o quanto eu o idealizei e até deixei de pensar em mim como alguém com muitos outros gostos, vontades e desejos, vendi as últimas apostilas de pré-vestibular que estavam guardadas aqui em casa. Limpei as gavetas da cômoda em que elas ficavam guardadas. Ainda não sei se são espaços vazios ou cheios de possibilidades.


Não é tão fácil para alguém com ansiedade generalizada se deixar ser mais que o passado ou todos os "e se" que existem. 

Comentários

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  1. Ai Tati, chegou a me dar um aperto no coração aqui. Eu prefiro acreditar que é um espaço SIM cheio de possibilidades, afinal, somos seres vazios de significado mas CHEIOS de potencial. E é sempre bom lembrar que a gente pode se reinventar quantas vezes quiser ~ a vida é curta demais para ser uma coisa só o tempo todo.

    <3

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  2. eu me vejo muito presa ao passado... seja em situações ou até mesmo objetos, quanto mais ambições. ainda tô um pouco presa nessa neura de vestibular, apesar de estar fazendo um curso de graduação. às vezes sinto que consigo superar certas coisas que não combinam comigo, em outras tudo só fica mito nublado e o que resta é seguir meus sentimentos (que nem sempre são coerentes)... enfim kkk, foi um desabafo. obrigada pelo texto ♥

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  3. Na gestalt-terapia, existe o conceito de vazio fértil, que é justamente enxergar esse vazio como cheio de possibilidades. Não tem como abrir espaço para o novo sem deixar algo vazio antes. Tomara que você encontre móveis mais firmes. Beijinhos.
    https://mashalkhim.com/

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  4. Acho melhor pensar que são espaços vazios que podem se tornar oportunidades!

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  5. é muito bom quando a gente percebe que esses pequenos momentos são enormes, são memórias boas com pessoas que amamos. eu outro dia estava no quarto da casa dos meus pais vendo o que levaria para o novo apê, foi como se várias lembranças boas de momentos bons que passei ali tivessem voltado. <3

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