2015 e o shake it off (and out).


Sempre digo que o meu melhor ano foi o de 2011 (mesmo que o meu critério na época não fosse dos mais exigentes, já que eu só tinha 14 anos) o que não é mentira, já que de 2012 para 2014 a sequência de tapas na cara que a vida me proporcionou foi incontável. O que explica meus textos de fim de ano para 2013 e 2014 serem peculiarmente depressivos, e justamente por isso não recomendo a leitura de ambos.

Mas 2015 com seu jeito todo especial conquistou um pedaço do meu coração, um pedaço do lado bom, o que me faz repensar se 2011 foi mesmo esse ano incrível ou se eu apenas sinto falta de não ter tantas responsabilidades, de rir por qualquer coisa e de saber todas as coreografias da Disney. Considerando que em todas as redes sociais que eu entro as pessoas estão implorando pelo fim desse ano e eu só consigo pensar que o que eu mais queria agora era voltar pra Janeiro e viver tudo de novo, posso dizer sem nenhum tipo de arrependimento: 2015, QUE ANO! E o mais estranho nisso tudo é que eu tenho muitos motivos pra me jogar no chão e chorar até o carnaval, foram tantas coisas acontecendo que cheguei a comentar com várias pessoas que em um ano eu sinto que na verdade vivi dois.

Esse foi oficialmente meu primeiro ano longe do Ensino Médio, o ano em que parei de achar que não tinha capacidade para um c e r t o c u r s o c o n c o r r i d o na faculdade e investi minhas economias em um pré-vestibular, o que foi de longe a melhor decisão que já tomei na vida, apesar das séries e filmes não assistidos, dos amigos perdidos, dos livros não lidos e de todas as vezes em que eu chorei resolvendo exercícios aprendi muita coisa que em três anos dentro de uma escola pública fui privada de saber. Nesse ritmo louco de estar trabalhando há dois anos seguidos sem férias tive uma tensão muscular tão forte que por uma semana inteira fiquei ouvindo minha nuca gritar que eu precisava desacelerar.

E eu desacelerei, guardei dinheiro pra conseguir pagar as mensalidades do cursinho e me dei o privilégio de ficar o segundo semestre inteiro desempregada, o que foi ótimo mas não está sendo mais, porque eu infelizmente me descobri uma dessas pessoas que precisa trabalhar pra sentir que a vida vale a pena.

Tive problemas reais, problemas de gente grande, completamente inesperados, mas desde que eles aconteceram me permiti chorar quando sentisse vontade, me permiti escrever sobre como é estar ligada a alguém pelo resto da vida mesmo não morando mais na mesma casa e a apesar da dor simplesmente continuar; um mês depois já estava tudo bem outra vez, o que nomeei de filosofia Shake it off (and out): 

Deixe para lá o que estão dizendo e siga sua vida, esqueça os demônios do passado porque é impossível dançar com esse peso nas costas.


Foi um ano tão bom, que o melhor livro que eu já li foi encontrado sem querer em uma prateleira e comprado por apenas R$ 10, 90; como se já não bastasse toda a graça alcançada foi um dos meus melhores anos vivendo na internet, com direito a entrar para o falecido Círculo Secreto e para os Blogueiros Geeks, além de me sentir uma completa idiota falando com uma câmera lá no meu canal, sem falar da incrível experiência de ter riscado muitas coisas completamente banais da minha lista loka (que inclusive vai ser meu primeiro post de 2016, porque além de tudo esse ano eu aprendi a ser organizada!).

E eu lhes pergunto: um ano com direito a banheiros que falaram comigo, a conversas sobre signos em filas de livrarias, a polêmicas em transportes públicos e motoristas que não sabiam o que estavam fazendo da vida, pessoas que não sabem ter conversas normais, uma cotovelada no olho no mesmo dia da aguardada maioridade, e graças a maioridade tirar meu título de eleitora virou mais um incrível momento da minha vida para questionar qual a minha dificuldade em ser alguém normal e apesar de todas as inconveniências ter a certeza de que se alguém mexer comigo, vão mandar matar TINHA COMO SER RUIM? A sensação de chegar no penúltimo dia do ano completamente feliz comigo mesma é maravilhosa, e saber que isso só aconteceu porque eu decidi que iria ser diferente é melhor ainda! Além da incrível aceitação com o meu corpo do jeitinho que ele é.

2016 é o primeiro ano desde que adquiri um pouco de maturidade em que eu não sei absolutamente nada do que vai acontecer comigo, e essa vontade de chorar por isso me faz querer viver ainda mais (?).


Eu espero que o ano de vocês tenha sido tão bom quanto o meu, e se não tiver sido essa Coca Cola toda, calma que fazer 2016 ser maravilhoso só depende de você, e eu sou a prova viva disso. Obrigada por tudo, vejo vocês em breve!  




Só acontece comigo #32

Na vida eu sou sempre o menino do triciclo.


Todos os dias pego ônibus no mesmo lugar, no mesmo horário, com o mesmo motorista, ás vezes suspeito de estar participando de uma nova gravação do filme Click. Era um desses dias normais em que coisas normais precisam acontecer, e eu estava ali, em minha banal existência esperando pelo mesmo ônibus de todos os dias. Um pouco a frente vejo uma pessoa em trajes comuns, descartei a hipótese de assalto e olhei para trás, certificando-me de estar em segurança no local, quando retornei meu rosto para frente, a pessoa que caminhava em minha direção estava com as mãos na cintura me olhando e dizendo:

- NÃO PRECISA TER MEDO NÃO, SE MEXEREM COM VOCÊ EU MANDO MATAR.

Se nada do que eu planejo der certo, estou cada dia mais convencida de que escreverei um livro sobre essa coisa estranha que chamo de vida. Não mexe comigo, vão mandar te matar.

Nádegas na face.


Reclamações camufladas de opiniões amigáveis chegam a meus ouvidos com frequência. Eu, apelidada de Tatizinha Ice por possuir um coração duro (lê-se por ser sincera e na maioria das vezes grossa sem perceber) estou arduamente aprendendo a sorrir quando só queria dar umas patadas em quem fala o que quer sem pensar que sua opinião termina quando a minha vida pessoal começa. Desde pequena sou vítima dos grupinhos, e quando digo vítima não digo que posso sentar com eles, eu sempre fui a esquisita e eles muito cools, porque sempre fui quieta demais, séria demais, "Olha lá ela fazendo a lição, tá querendo se mostrar pra professora, vamos tacar mexerica nela na hora do intervalo" (sim, isso aconteceu).

Aulas de Filosofia tendem a serem os melhores e piores momentos na vida dos estudantes. Sempre tem aquela aula em que você sai da sala se perguntando quem você realmente é, e aquela em que você simplesmente não está em um bom dia de saúde mental e precisa ir direto pra uma clínica psiquiátrica.

Há uns dias atrás tive uma aula de Filosofia em plena aula de História, o bônus mais sagrado que já presenciei em vida, um dos meus professores preferidos (ele fala "fezes" quando escreve algo errado e conta sobre a ditadura militar/inicio da democracia no país como se tivesse tomado chá da tarde com todos os políticos citados, tem como não fazer um cantinho de adoração pra uma pessoa assim?) me incentivando a fazer o que eu mais gosto desde pequena: pensar em todas as possibilidades que me cercam e perceber que a vida é esse trem do metrô que para mudar o lado para o qual ele se move, basta você pensar na direção.




Pegando o apagador ele olhou pra toda a sala e perguntou: "O que é isso?", "Um apagador" ouviu-se de um lado da sala. "Poderia, mas não é a resposta que eu preciso. O que é isso?" depois de um tempo em silêncio onde conseguíamos ouvir as respirações uns dos outros um corajoso se posicionou, "Depende do ponto de vista, pra mim é um apagador, pra você eu não sei o que pode ser" e o que se seguiu foi uma conversa sobre como nada é realmente uma verdade absoluta, sobre como o respeito as lutas que não te pertencem é essencial (#somostodosTaisAraujo? Não, não somos. Não somos porque a luta da negra pobre é diferente da luta que a negra classe média enfrenta; não somos porque a luta contra o racismo pertence somente e indiscutivelmente a quem o sofre, e a mim, mulher branca não nascida na classe média, mas ainda assim branca, cabe apenas ficar no meu canto e deixar que quem o sofre ganhe voz, sendo da minha responsabilidade apenas apoiá-los a continuar e a passar para pessoas do meu convívio a importância da luta) e sobre como na verdade a realidade parte do mundo ideológico - o número 1 só existe porque alguém o idealizou, assim como todas as outras coisas.

Por coincidência - ou não - na mesma semana, em uma aula de literatura, conversamos sobre o poder que a opinião alheia possui em cada um de nós. Muitas vezes o que consideramos nossa personalidade é na verdade algo que ouvimos com frequência das pessoas do nosso convívio. Exemplificando: pode ser sim que você pense algo sobre si por ter observado tal detalhe, mas na maioria das vezes nos achamos tímidos porque alguém falou, e o que é a timidez afinal? É tremer antes de falar com alguém? É se fechar por medo do que pode acontecer? Isso não seria na verdade uma ansiedade? O que querem os tímidos? Biscoito ou bolacha? Com ou sem uva passa? Então é natal, ano novo também? Depende. Do. Ponto. De. Vista.

De acordo com o ponto de vista alheio, eu sou emburrada, quando na verdade, só sou séria quando estou com minha face neutralizada, parecendo estar com cara de bunda mas na verdade estando de boa com a vida. As pessoas entendem isso? Não, porque é mais fácil falar que eu não deixo ninguém se aproximar do que entender que essa é minha cara mesmo, mas que depois de certo tempo eu faço mais piadas do que deveria e ás vezes até te faço passar vergonha no meio da rua.

De acordo com o ponto de vista alheio, eu sou tímida demais, quando na verdade tenho um desses problemas que necessitam de tratamento chamado ansiedade, que me faz suar e achar que vou morrer só de dar oi pra alguém. As pessoas tentam conversar comigo pra ver que eu não sou assim tão tímida e que o meu real problema é ter que ser quem da o primeiro passo? Não, porque é mais fácil olhar de longe e comentar com o colega o quanto eu sou tímida e fechada do que puxar assunto.

De acordo com a opinião alheia, a pior decisão que já tomei foi escolher Medicina. Porque os médicos hoje em dia não sabem de nada, porque tem que estudar muito, porque é um absurdo eu estudar um ano inteiro e não conseguir passar no vestibular. As pessoas pensam o quanto eu fico mal por escutar isso? Não pensam. Pensam que eu ainda nem entrei na faculdade e que não há necessidade de me atormentar com isso? Pensam no tanto de matéria que se tem no vestibular e em como é difícil sair de uma escola pública e descobrir que metade do que eu deveria saber nem sequer aprendi e que por esse motivo é impossível eu passar no vestibular com só um ano de cursinho, além do fato de eu trabalhar e por isso não ter 12 horas diárias de estudo disponíveis? Não, as pessoas não entendem.

E é por causa da opinião alheia que eu nunca me encaixo que sou sempre a estranha; e no mundo adulto, por mais que eu espere o contrário, as pessoas parecem ficar cada vez mais nesse mundinho mental onde pra ser aceitável tem que estar de acordo com o que eles querem.

Com esse texto deixo meu legado ao mundo: a teoria do bumbum de neném. Por trás de todo bumbum lotado de fralda, existe um bebê cheio de dobrinhas esperando que você se aproxime e o faça gostar de você. Da mesma forma por trás de toda cara de bunda ou há uma pessoa com problemas pessoais que talvez precise do seu abraço ou há alguém que tem essa cara séria mesmo e cabe a quem o vê perceber isso.

Só não subo uma hashtag incentivando a teoria, algo como #somostodoscaradebunda porque tudo depende do ponto de vista e talvez você não concorde comigo, mas eu realmente agradeço pela sua paciência em ler tudo isso.
© Limonada
Maira Gall