Não consigo acreditar no perdão. Somos seres com memória, e tudo o que fazemos ou nos é feito fica guardado. Não acredito no perdão, e por isso nunca o pedi, nem perdoei, mas também nunca revidei ou repassei milhares de vezes acontecimentos que já foram, apenas deixei que o tempo atribuísse a eles uma camada de poeira e nunca mais os toquei.
Venho de uma família que raramente pede desculpas, e por isso acredito nelas. Todas as vezes em que não as ouvi senti que a ferida se tornava maior, então passei eu mesma à pedi-las. Também aprendi a vê-las nos atos dos que me cercam, nas entrelinhas, nas vezes em que a palavra não é falada, mas está ali, presente. Minha família molda muito do que sou, mas decidi desculpar.
Sempre tolerei muito, tolerei de tudo um pouco, até aprender que não preciso carregar além do meu peso. Viver é construir uma narrativa, e não é meu dever escrever histórias que não sejam minhas. No entanto, mesmo naquelas que me pertencem, a tolerância jamais deve ser forçada, e é por isso que aprendi a maneira certa de construir minha narrativa: eu a escrevo, mas também rabisco e deixo para fora dela aquilo que não vai acrescentar.
Percorri muitos caminhos diferentes ao longo dos anos e sei que todas as rotas, por mais diferentes, me trazem de volta a quem sou. Cada fragmento é parte de um todo. Olhar para cada um deles e entender minhas nuances não faz com que eu saiba sobre tudo, mas motiva a continuar conhecendo. Não é por acaso que sempre que esbarro em mim, me surpreendo.
“Enxergar claramente a nós mesmos é projeto para uma vida inteira.” NIX, Nathan Hill.
Nunca tinha visto um post desse tipo, mas achei sensacional! Só não me comprometo a fazer algo assim porque eu provavelmente esqueceria no ano seguinte, risos.
ResponderExcluirOlha, nem sei o que te dizer, sinto que levei um tapinha gentil na face ao ler o último parágrafo, porque é algo que eu meio que já pensei sobre, mas não queria aceitar. É tão difícil perceber que nós nunca seremos uma coisa só, mas vários fragmentos que vem e voltam conforme as situações... Pelo menos é dessa forma que eu interpretei o que você escreveu, UAHEUAHUEAH.
Isso me lembrou à terapia de aceitação e compromisso, que busca fazer a pessoa enxergar a si mesma de um jeito contextual e não cristalizado. É sensacional, recomendo dar uma procurada sobre isso, caso você tenha interesse.
Beijinhos.
https://afoolishmistake.blogspot.com
Amei o conceito do texto. É possível se conhecer e se entender antes de esperar entender as pessoas ao seu redor.
ResponderExcluirBeijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥
Eu também nunca acreditei em perdão. Porque as pessoas sempre falam do perdão como se a gente deixasse algo pra lá - até que comecei a ouvir as pessoas dizendo que "perdoar era diferente de esquecer" e fiquei: que diabos.
ResponderExcluirEu concluí que perdoar é aceitar. É dizer: eu aceito que isso aconteceu. Eu aceito que isso não pode ser mudado. Eu aceito o fato de que o outro pode não ter me considerado, ter me machucado, sendo ou não intencional. E eu não vou voltar nesse lugar de novo, não vou questionar isso de novo.
E embora você tenha iniciado o texto falando sobre não acreditar no perdão, eu acho que o perdão passou pelo texto inteiro. Sobre aceitar a si mesma em todas as nuances e momentos, sobre crescer, sobre não carregar as culpas - nem suas nem dos outros - mas sem esquecer quem é, de onde veio. É perdoar, mas não permitir mais que certos limite sejam desrespeitados. Crescer apesar de tudo.
Aí ó, brisei junto.
Feliz 2019, Tati! Que venham mais caminhos, encontros, esbarradas e experiências. Que as energias sejam boas e os ventos sejam leves, sem tempestades. Mas que vc tenha teto e guarda-chuva caso as tempestades apareçam!
Obrigada por aparecer no blog sempre que dá, você não imagina como seus comentários fazem o meu dia <3
Beijo!
Tenho muita dificuldade em perdoar. Acho o perdão muito nobre e caro para ser distribuído por aí sem critérios, sem verdade. Por outro lado, não tenho dificuldade em reconhecer meus erros e pedir perdão. Mas não espero que os outros me perdoem também.
ResponderExcluirO perdão só existe quando os dois lados se sintonizam: quando um pede e o outro aceita, de coração. Talvez essa sintonia não aconteça com frequência e por isso também acho difícil acreditar no perdão.
Adorei suas reflexões! <3 E obrigada pelo comentário lá no meu bloguinho!
Um abraço.