Eu sou complexada.
Não tem mais o que falar, obrigada por
terem lido.
A insegurança me acompanha desde pequena, lembro-me
de tê-la sentido pela primeira vez quando notei que todas as crianças usavam
sapatos coloridos enquanto eu usava minha bota ortopédica, em uma vibe Eduardo, achei estranho, mas decidi não comentar e segui com minha vida, mesmo que isso envolvesse usar vestidos rodados com um par de botas pretas nos pés. Algum
tempo depois comecei a usar óculos, era chato ver todos os meus colegas
correndo livremente no parque enquanto eu tinha que ter um cuidado extra pra
não quebrar a única coisa que me fazia enxergar, e para uma criança com cinco
anos, um óculos com grau quatro era a única coisa que poderia me fazer esquecer
a bota ortopédica, porque veja bem, não basta ter um pé meio torto, tem que ter
um probleminha de visão também.
Perdi dentes de leite, esqueci meu amigo
invisível, perdi quatro peixes Betta, mudei de
casa quatro vezes (to achando incrível como o número 4 me persegue, nunca tinha
reparado) fiz incontáveis coisas, até finalmente, aos 12 anos, decidir andar de
mãos dadas com a insegurança, apertem os cintos, a aventura pelo mundo dos
complexos começou.
De todas as inseguranças, a mais forte
sempre foi relacionada ao meu peso. As pessoas falam, muitas vezes falam o que
não deveriam, e eu, esta pessoa insegura que sou, sempre dou ouvidos ao que
dizem, muitas vezes um motivo de orgulho, mas em sua maioria, uma desgraça.
Quanto mais você cisma com algo, mais as pessoas parecem gostar de falar disso,
e no meu caso, é claro que todo mundo sempre falou do meu peso, porque vejam
bem, se eu não comer mais, vou voar; se eu não comer mais, vou sumir;
"olha esses braços, eu consigo fechar a minha mão em volta dele!" e
então começava uma premiação com tapete vermelho para ver quem conseguia o
troféu de braço mais grosso que o da Tatiane. Por tal motivo, eu nunca saio de
shorts na rua. A última vez que me lembro de tê-lo feito, foi aos oito anos,
fazendo as contas, foram exatamente 10 anos passando calor no verão.
Ano passado comprei uma saia. Comum, um
pouco acima do joelho e rodada, estampada com gatinhos pois não sou obrigada, e
assim iniciou-se a saga de desconstrução de complexos psicológicos nada úteis.
Depois de ir acostumando com a ideia comprei um vestido e também comecei a
usá-lo, até que um dia, em um banheiro de shopping, dei de cara com meu reflexo
no espelho de saia e o monstrinho horrível
gritou na minha mente: RÍDICUUUUUUULA OLHA ESSAS PERNAS FINAS, ESSAS COISAS
BRANCAS QUASE TRANSLÚCIDAS, SE ESCONDE NO SEU QUARTO E FICA LÁ CERCADA POR
ANIMAIS ENQUANTO DIGITA TEXTOS RECLAMANDO DA VIDA NA INTERNET, SAI DAQUI, VOCÊ
NÃO MERECE VIVER EM SOCIEDADE. Eu, educada como sou, dei ouvidos.
Mas o mês de Setembro chegou, porque ele
sempre chega, e com ele vem a primavera, e o que é imortal não morre no final,
portanto, o calor começou. Calor pra ser gentil, porque sinceramente falando,
em São Paulo estamos presenciando uma demonstração realista do inferno.
Como o evento acima não requer trajes
sociais, viver com calça jeans e tênis estava sendo complicado, pra não dizer
impossível, e ver estudantes confortáveis com suas roupas de verão enquanto eu
morria lentamente não estava ajudando muito, até que em um dia de inspiração,
depois de acordar ouvindo música alta com vontade de fazer faxina na casa,
tomei um novo rumo em minha vida.
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Peço perdão ao código das blogueiras mas não vi necessidade em editar a imagem. |
A imagem acima é real.
Eu sai de shorts.
Passei mais de 4 horas convivendo em
sociedade de shorts.
Acho que até ouvi a pele da minha perna
dizer um obrigada durante o dia.
Não consigo mais falar sobre isso, preciso
de um tempo pra digerir e conseguir explicar a sensação da forma certa, pra
toda vez ler o texto e lembrar que eu posso sim sair com as pernas à mostra na
rua.