Não é atoa que inconstante faz parte do nome desse blog, muitas vezes a inconstância parece algo ruim: falta de estabilidade, uma pessoa que não é capaz de estar ali por você, mas no meu caso, não é por esse motivo que me classifico alguém inconstante. Desde o momento em que comecei a reconhecer a presença das crises existenciais na minha vida (por volta dos meus quinze anos, inclusive saudades de todos os anos que o antecederam, era maravilhoso não me questionar de cinco em cinco horas) sempre notei a dificuldade extrema em me aceitar como sou. Ora me acho tímida demais, ora me acho séria demais e toda característica - boa ou ruim - que noto possuir começa a entrar para essa lista infinita. Sou inconstante não por não aguentar estar sempre na mesma situação (também, mas nem sempre), mas por sempre me forçar a ver as coisas de um outro ponto de vista, por querer sempre mudar de rota mesmo que o trajeto já seja o mais seguro, e por mais que não me acostumar com o que já tenho seja ótimo, me atrapalha muito querer mudar até o que não deve ser mudado: quem eu sou, o que muitas vezes faz com que eu me deixe levar por coisas que as pessoas falam, e já diz o velho ditado, "Se conselho fosse bom, não se dava, se vendia.".
Quando era pequena e precisava ficar frente a frente com os adultos que andavam com meus pais, sempre me escondia atrás das pernas da minha mãe e resistia até o último segundo possível para cumprimentá-los, o que era totalmente diferente com outras crianças, brincava e conversava sem o mínimo esforço. Conforme os anos foram passando, fui cada vez mais entendendo como funcionam as conversas e todos os métodos de socialização do mundo real, e hoje sou uma pessoa extremamente tímida para inícios. Não sei me apresentar, não sei dizer oi para pessoas que só conversei uma vez, não sei dar sorrisos simpáticos, minhas mãos suam e meu coração acelera cada vez que preciso me apresentar pra alguém, sou o que chamo de uma pessoa de meios, odeio inícios, odeio finais, vamos ficar aqui no tempo que existe entre ambos, por favor?
Já faz uns dias que venho chorando pelos cantos por achar que não gosto de quem sou, por achar que preciso ser mais extrovertida, mais sorridente, por achar que preciso viver a vida como os jovens de hoje em dia, porque se você olhar para o meu perfil, vai saber que eu estou nessa idade. As pessoas com dezoito anos gostam mesmo de sair pra dançar, pra beber, de usar muita maquiagem e salto alto, de rir de modos extravagantes dentro do transporte público, o famoso Carpe Diem da nova geração, entendem? Pois eu não. Isso nem faz parte da timidez, eu realmente nunca gostei de sair a noite, de perder madrugadas de sono dançando (gente, eu nem sei dançar, sei fazer graça, serve?), me odeio quando sem querer falo um pouco mais alto em locais públicos porque acho uma falta de respeito com quem também está ali ser obrigado a me ouvir, mas a minha mente sempre dá um jeito de me fazer achar que estou muito errada por não fazer todas essas coisas, por mais que elas não combinem comigo.
Esses dias, a
Ana falou no blog dela sobre
FOMO, essa sensação explicada pela psicologia de estar sempre perdendo algo importante mesmo quando não queremos estar no local em questão, o que vem sendo cada vez mais comum nos nossos tempos graças as redes sociais, entramos no
Snapchat (maldito seja) e vemos pessoas em festas, entramos no
Instagram e vemos pessoas em festas, entramos no
Facebook e vemos pessoas em festas TOP, entramos no
Twitter e vemos pessoas que não vão pra nenhum lugar (melhor rede social) e mesmo sabendo que tudo o que está nas redes é editado, que muitas vezes aquela foto sorrindo com os amigos não foi tão feliz assim, sentimos que deveríamos estar ali, aproveitando a vida com mais do que estudos, séries ou afazeres introvertidos.
Foi quando em meio a essa onda de eu-preciso-ser-alguém-melhor cometi o erro de desabafar com as pessoas, minha mãe sempre diz que eu preciso avaliar mais pra quem estou contando o que sinto, porque algumas pessoas não merecem algo tão grandioso e pessoal, mas eu sempre caio na mesma cilada, sempre me desespero e falo pra qualquer um que me dê atenção o quanto a vida anda errada, e é sempre ai que a vida fica mais errada ainda.
Dos conselhos bons que recebo, uma amiga muito querida sempre me motiva a enfrentar mais as coisas, ela sabe que sou muito tímida, mas insiste que eu preciso parar de pensar sempre no "E se..." e me arriscar mais, a vida é isso mesmo, um dia a gente quebra a cara, no outro a gente ri, e eu concordo muito com ela, por isso desde o fim do ano passado tento quebrar essa constância de introversão, tem funcionado na medida do possível e até agora só tive boas experiências. Em uma dessas conversas, demorei pra aceitar que ela tinha razão e fui procurar conselhos em outro colo. Amigos, que erro, se eu entrei na conversa ruim, sai pior.
Cada pessoa no mundo tem sua própria personalidade, e é ela que molda todas as decisões que você toma no seu dia: a roupa que você escolhe usar, o que você gosta de falar e todas as coisas impossíveis de serem citadas; é isso o que nos difere uns dos outros e ainda bem que é assim, desde que nossos modos não atrapalhem nossas vidas, não há nada de errado em continuar sendo quem você é, e quando se precisa mudar, não é virar do avesso, e sim melhorar o que dá e manter o que já está bom. Aparentemente, nada estava bom por aqui nos olhos de outra pessoa, foi quando descobri meu complexo de Rory Gilmore.
Entre a quarta e quinta temporada de Gilmore Girls (um dia vou parar de associar a série a minha vida, prometo) a Rory, que sempre foi uma garota mais introvertida, caseira, começa a achar que é errado ser assim. É quando ela começa a frequentar lugares que não costumava ir, a andar com pessoas que pensam de uma maneira diferente, e por mais consciente que se esteja, quando passamos muito tempo com pessoas muito diferentes de nós, uma coisa ou outra acaba nos influenciando. Em um dos episódios, Rory chega a perguntar a sua mãe se ela não acha que ser tímida é algo ruim, se ela não deveria viver mais a vida, e o que se segue é um descontrole dos grandes, a ponto de em alguns momentos a própria Lorelai não saber mais quem a Rory é.
Não cheguei ao nível de fugir de quem sou, mas escutei coisas que ainda estão por aqui, ecoando por todos os lugares em que vou. A começar pelas questões amorosas, sempre tive uma dificuldade maior, a primeira vez que realmente senti algo por alguém foi aos quinze, enquanto todas as minhas amigas aos doze já tinham alguém por quem suspirar, além disso nunca consegui entrar em relacionamentos casuais, ou eu namoro sério ou não namoro. Alguns fatores da vida fazem com que eu seja o tipo de pessoa que pensa muito, em tudo, o tempo inteiro, o que é péssimo quando tenho um problema, mas ótimo em relação a todas as outras coisas, porque foi sempre pensando antes que cheguei aonde cheguei - e deixei de chegar em lugares que sou eternamente grata por não ter conhecido.Também nunca fui de fugir das minhas responsabilidades, por mais pequenas que fossem, se eu preciso estudar, estudo; se preciso tirar um fim de semana para limpar meu quarto, me desconecto de todo mundo e realmente limpo. Eu sou o completo oposto do Carpe Diem, e o que eu nem cogitava antes, agora aparece por aqui todos os dias: é errado eu não ficar com as pessoas na mesma frequência que pessoas ~normais? É errado eu não sair para curtir a vida mesmo com aquelas equações precisando de alguém para resolvê-las e aquela poeira no quarto precisando ser varrida? É errado eu ser tão introvertida? Foi quando, conversando com a pessoa certa, esse diálogo aconteceu:
- Queria eu ser extrovertida assim.
- Gosto de você exatamente do jeito que você é!
Além de reconhecer como eu estava errada por ouvir o que não devo, por questionar se eu deveria ser outra pessoa, percebi que existem pessoas que gostam de quem sou, e se elas gostam, por que eu não deveria gostar? E a resposta pra todas as outras perguntas, desde então, vem sendo essa:
Quando tento fazer coisas que não gosto para agradar outros, sempre me sinto péssima, sempre volto pra casa querendo que a hora de dormir chegue logo para deixar o que aconteceu no passado, e por mais que isso pareça fraco, eu sempre tenho uma crise de choro, odeio chorar por não saber lidar com algo, mas odeio ainda mais quando não sei lidar com algo que além de não querer, não preciso lidar.
Se você chegou até aqui, obrigada. Obrigada por aguentar todas as perguntas sem respostas, os choros, e as referências a Rory Gilmore. Acima dos agradecimentos, se você se identificou com isso, por favor, não mude. Não mude seu jeito porque alguém disse que não está bom, mude porque quis, e mude pra melhor. Promete que nunca vai se sentir menos que alguém? Promete que não vai deixar que te façam se sentir menos? Você é única(o), e eu sei que existem pessoas que te amam por quem você é, mantenha elas por perto e esqueça todas as outras, certo? Esse vai ser o nosso combinado!