Ligados no piloto automático diário deixamos de perceber que viver é
basicamente sobre tentar. Tentamos pegar o transporte mais vazio, chegar
no horário certo, sorrir para outras pessoas, nos alimentar melhor e
tantos outros exemplos que caberiam aqui. De tanto tentar
automaticamente, quando o fazemos com consciência de que não é algo
exato, se torna três vezes mais difícil, em alguns
casos pela preguiça de planejar tudo até quem sabe conseguir colocar em
prática, e em sua grande maioria pelo medo dos resultados ruins. Tentar não significa ser mais fraco que seu adversário (sempre associamos o papel de trouxa ao ato de demonstrar afeto romântico para com alguém, e apesar de eu também estar abordando isso no texto, quero deixar claro que o ponto aqui são todas as tentativas que a vida nos proporciona, podendo seu adversário ser uma entrevista de emprego, o sonho que sempre ficava para trás, um esporte jamais praticado por medo e etc) e sim ser mais corajoso, já que é preciso muita segurança para dar a cara à tapa.
Em A Arte de Pedir, Amanda Palmer fala muito bem sobre a vulnerabilidade, sempre vista por todos como fraqueza, quando na verdade, é um ponto extremamente forte que se bem trabalhado, nos leva à resultados incríveis.
"Cacete. Eles não têm nada de assustadores. São só... um monte de gente. [...] E, quando a gente tem medo dos julgamentos dos outros, não dá para se conectar com eles. Ficamos preocupados demais com a tarefa de causar uma boa impressão."*
Estar vulnerável, nesse contexto, não significa estar pronto para receber uma facada nas costas, mas sim estar pronto para uma vida leve apesar de todas as durezas que suportamos nesse processo. Aceitar que somos todos humanos que acertam muito, mas que erram o dobro, é essencial para conseguir absorver a ideia de que nem tudo está no nosso controle, e tudo bem, porque seria horrível se estivesse. Se aceitar como um ser vulnerável significa entender que assim como você tem suas inseguranças, o outro também têm, o que nos leva ao centro do texto: as tentativas. É horrível imaginar como vai ser tentar o emprego que você sempre sonhou e poder ser rejeitado por não estar qualificado? É sim. É péssimo visualizar a cena em que um grupo de pessoas ri ao te ver tentando algo diferente? Claro que é! Dói muito se declarar pra alguém e receber um "Olha, você é uma pessoa muito legal, mas..."? E como dói, amigo! Isso não significa que você é menos, que a vida acabou ali, que toda a sua reputação foi perdida naquele momento, porque o que realmente define tudo é o que te levou até ali: a tentativa. E por mais que seja difícil crer, por mais que todos os seres da Terra pareçam irradiar a luz da confiança, na verdade tá todo mundo querendo chupar o dedão em posição fetal enquanto chora por ter levado um "não" da vida, o que poderia doer menos se todos nós nos abríssemos uns com os outros e aceitássemos que tá tudo bem, apesar de não estar.
"Realmente não há honra nenhuma em provar que você pode carregar sozinho todo o peso nas costas. É algo... solitário."*
Na terceira temporada de How I Met Your Mother, episódio 16, a Robin leva o segundo fora da sua paixão de colegial. Ela tenta mostrar que não se importa, que poucas horas depois já está tudo bem outra vez, até que fica sozinha na mesa de um bar e chora. A cena em questão me marcou muito por mostrar nada mais do que tentativas: a primeira, quando a Robin se entrega outra vez para o cara que a fez gravar um clipe melancólico em uma praia; a segunda, quando ela tenta se mostrar mais forte que aquilo e a terceira, quando ela sabe que tentou e se mostra mais humana do que nunca.
E já que estou citando How I Met Your Mother, existe exemplo melhor de vulnerabilidade e mestre das tentativas do que Ted Mosby? Ted não é um personagem profissional em ser trouxa, é um personagem que persiste em tentar apesar de todas as desculpas que poderia ter dado para se fechar pra vida.
Não sei quem foi o primeiro a categorizar algo como "papel de trouxa", mas quem começou, tenha a fineza de parar. Há uns dias atrás, notando minha mania de permanecer no "E se..." por pura insegurança de lidar com as infinitas possibilidades que agir pode me dar, resolvi colocar o IBGT (Instituto Brasileiro de Geografia da Tatiane) em ação no Twitter, e o que era pra ser uma enquete simples, me surpreendeu muito.
Quem está dizendo não sou eu, e sim as estatísticas: mesmo que a maioria aplauda quem tenta, grande parte ainda vê como trouxice. Se você ainda está lendo isso e se perguntando aonde eu quero chegar, prepare-se, pois a partir de agora, nesse mesmo post, nós vamos desconstruir o papel de trouxa.
Tutorial: como substituir o "papel de trouxa" por "eu tentei".
1 - Tenha em mente o que você quer e com isso planeje como pode chegar até o seu propósito (se por acaso o objetivo envolver outra(s) pessoa(s), não se esqueça: faz parte da vulnerabilidade a conexão com o outro. Se a pessoa discordar com o que você propôs, respeite-a, e vá para o passo 4).
2 - Respeite seu próprio tempo. Não adianta fazer algo no impulso e se sentir culpada(o) depois, aceite que o passo a ser dado é grande, e que por isso você mesma(o) precisa saber quando será o seu momento certo (não confunda isso com procrastinar, ok?).
3 - Tente. Não tem explicação nenhuma não, vai que é tua Tafarel.
4 - Siga o esquema abaixo:
5.1 - Talvez tenha sido horrível passar por cima do orgulho ou de qualquer outro fator que antes te impedia de tentar, a voz repetindo "Trouxa, trouxa, trouxa, trouxaaaaaa!" na sua mente pode ter te ameaçado muitas vezes, mas agora você sabe que ela é só um modo que você mesma(o) encontra para se proteger de um "perigo eminente". Tentar é ótimo e ver dar certo é mais ainda.
5.2 - Você tentou e não há nada mais admirável que isso. As respostas negativas sempre vão estar por ai, e todos nós nos deparamos com elas durante a vida. Tentar é aceitar que a probabilidade de dar certo é a mesma de dar errado. Não faça disso uma experiência ruim, transforme-a em aprendizado, e não esqueça: você tentou, e tentar é humano.
Tudo o que conhecemos hoje só existe porque alguém tentou quando podia ter se limitado. Que você aí do outro lado continue tentando, aceitando o que a vida te dá e desconstruindo o papel de trouxa.
*Todos os quotes citados nesse post foram retirados do livro A Arte de Pedir, da Amanda Palmer.
teu post veio numa hora certa pra mim.
ResponderExcluirjá desisti de muitas coisas só por conta da possibilidade de de dar errado e depois que eu vejo que também podia dar certo, fico com tanta raiva de mim por nem dar uma chance pras oportunidades.
tô tentando parar com isso, já estou me arriscando numas coisas que, espero que deem certo, mas estou com exercitando a mente para ficar tranquila se não der. mas só de tentar, já tô me sentindo 'feliz'.
e esses quotes maravilhosos *u* já ouvi falar no livro, mas nunca me interessei. agora, quero ler pra agora!!
beijos no coração.
Que gostoso ler isso! <3
ExcluirTambém tenho tentado me arriscar mais do que ficar a vida toda pensando no que poderia ter sido, mas é bem difícil né? De pouquinho em pouquinho a gente chega lá.
E sobre A Arte de Pedir: por favor leia!!!! Amanda Palmer é uma pessoa maravilhosa que consegue passar essa "maravilhosidade" para outras pessoas de um jeito muito espontâneo.
Beijos Sara! <3