Depois que passei pelo processo chamado mundo afora de amadurecimento - não sei se como consequência dele ou se é uma mera coincidência - foi ficando cada vez mais difícil ver as coisas com bons olhinhos, sabem? A amargura me pegou, tentei escapar não consegui. Acredito que uma das cenas mais marcantes de Clube dos Cinco é a em que a Alisson diz "Quando você cresce, seu coração morre." justamente pela identificação que ocorre entre a vida real e o mundo cinematográfico; a gente vai crescendo e vai ficando tudo meio chato, inclusive nós. E depois de três anos seguidos vendo essa teoria se confirmar diariamente, 2016 me mostrou o contrário.
Foi o primeiro ano em que resolvi não me cobrar nada, eu sabia o que precisava ser feito e sabia como e quando correr atrás de tais coisas, e se hoje, enquanto escrevo esse texto, consigo sentir o alívio de ver que o caminho escolhido foi o certo, é graças a isso. Entendi que montar listas em um papel pode sim ser muito divertido, mas não me garante nada além de mais frustrações com o que não funciona, e que na maioria das vezes, essas metas estipuladas no papel costumam envolver dinheiro, e por incrível que pareça, o melhor ano dos últimos três consecutivos, conseguiu sê-lo apesar da pouca condição financeira.
Comecei aprendendo a confiar mais - nos outros, nas minhas ambições - e a estar disposta, algo simples, mas que muda todo o rumo das coisas. Falei aqui sobre usar nossos superpoderes e essa definitivamente foi uma característica marcante desses doze meses. Ajudei pessoas perdidas na minha cidade e confiei que se caminhasse lado a lado com elas não seria assaltada (e não fui!), superei a timidez e elogiei quem admirava enquanto olhava nos seus olhos e sentia a alegria delas, me permiti conhecer pessoas novas e rir com elas por qualquer coisa o que só trouxe a certeza de que as pessoas certas existem e nos fazem um bem danado.
Aceitei que não dá pra abraçar o mundo de uma vez só e que saber a hora de ficar e a hora de partir é difícil, mas benéfico. Os anos passam e nós não mudamos só fisicamente, a mente amadurece, os sentimentos sabem sua hora, as pessoas não compactuam mais com quem somos e isso não significa que você deixou de amá-las ou que tudo o que enfrentaram juntas foi uma mentira, só significa que a vida aconteceu e que agora as peças se desgastaram muito a ponto de não ter mais como encaixá-las. Existir é isso, ser notado na chegada e na saída.
Aprendi que não há problema algum em cantar de repente, porque sempre vai ter alguém pra continuar a música com você, que ter ataque de riso no meio da rua deveria ser rotina, que pedir abraços e chorar um pouco quando tudo é pesado demais é mais fácil do que querer carregar o mundo sozinha, que às vezes todo mundo precisa se cuidar mais, tanto fisicamente como emocionalmente e me tornei praticamente a versão feminina do Schmidt de New Girl com o mantra "I try to set a good example. Treat your body like a temple."
Foi um ano de dedicação aos estudos, com resultados que não poderão ser aproveitados por outras questões, mas que me mostraram o potencial que tenho. Foi ano de newsletter, de 31 dias seguidos de BEDA, de um Blogmas que não deu muito certo, mas que se supera pela tentativa pra sempre registrada aqui, ano de conhecer gente nova não só na vida real, porque o virtual também existe e está cheio de pessoas incríveis com quem troquei e-mails, tweets e mensagens pelo Facebook (e cara, eu tenho pessoas de outros Estados no meu Facebook!!! Pessoas que nunca vi!!! E tenho total liberdade para falar com!!!).
Se eu pudesse escolher qualquer coisa pra fazer nessas últimas cinco horas que restam do ano, tentaria mandar um e-mail pra Amanda Palmer agradecendo (e ao mesmo tempo xingando, mas de uma maneira boa) por me fazer perceber que os outros são só pessoas, e que estar disposta ao que, e a quem vier, é a única coisa necessária para ser sempre melhor. E já que é preciso encerrar esse texto de algum jeito, que seja citando Drummond.
"[...]Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
preferiram (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação."
Os Ombros Suportam o Mundo, Carlos Drummond de Andrade.
Até 2017!