2016: o ano Amanda Palmer.



Depois que passei pelo processo chamado mundo afora de amadurecimento - não sei se como consequência dele ou se é uma mera coincidência - foi ficando cada vez mais difícil ver as coisas com bons olhinhos, sabem? A amargura me pegou, tentei escapar não consegui. Acredito que uma das cenas mais marcantes de Clube dos Cinco é a em que a Alisson diz "Quando você cresce, seu coração morre." justamente pela identificação que ocorre entre a vida real e o mundo cinematográfico; a gente vai crescendo e vai ficando tudo meio chato, inclusive nós. E depois de três anos seguidos vendo essa teoria se confirmar diariamente, 2016 me mostrou o contrário.

Foi o primeiro ano em que resolvi não me cobrar nada, eu sabia o que precisava ser feito e sabia como e quando correr atrás de tais coisas, e se hoje, enquanto escrevo esse texto, consigo sentir o alívio de ver que o caminho escolhido foi o certo, é graças a isso. Entendi que montar listas em um papel pode sim ser muito divertido, mas não me garante nada além de mais frustrações com o que não funciona, e que na maioria das vezes, essas metas estipuladas no papel costumam envolver dinheiro, e por incrível que pareça, o melhor ano dos últimos três consecutivos, conseguiu sê-lo apesar da pouca condição financeira.

Comecei aprendendo a confiar mais - nos outros, nas minhas ambições - e a estar disposta, algo simples, mas que muda todo o rumo das coisas. Falei aqui sobre usar nossos superpoderes e essa definitivamente foi uma característica marcante desses doze meses. Ajudei pessoas perdidas na minha cidade e confiei que se caminhasse lado a lado com elas não seria assaltada (e não fui!), superei a timidez e elogiei quem admirava enquanto olhava nos seus olhos e sentia a alegria delas, me permiti conhecer pessoas novas e rir com elas por qualquer coisa o que só trouxe a certeza de que as pessoas certas existem e nos fazem um bem danado.

Aceitei que não dá pra abraçar o mundo de uma vez só e que saber a hora de ficar e a hora de partir é difícil, mas benéfico. Os anos passam e nós não mudamos só fisicamente, a mente amadurece, os sentimentos sabem sua hora, as pessoas não compactuam mais com quem somos e isso não significa que você deixou de amá-las ou que tudo o que enfrentaram juntas foi uma mentira, só significa que a vida aconteceu e que agora as peças se desgastaram muito a ponto de não ter mais como encaixá-las. Existir é isso, ser notado na chegada e na saída.

Aprendi que não há problema algum em cantar de repente, porque sempre vai ter alguém pra continuar a música com você, que ter ataque de riso no meio da rua deveria ser rotina, que pedir abraços e chorar um pouco quando tudo é pesado demais é mais fácil do que querer carregar o mundo sozinha, que às vezes todo mundo precisa se cuidar mais, tanto fisicamente como emocionalmente e me tornei praticamente a versão feminina do Schmidt de New Girl com o mantra "I try to set a good example. Treat your body like a temple."

Foi um ano de dedicação aos estudos, com resultados que não poderão ser aproveitados por outras questões, mas que me mostraram o potencial que tenho. Foi ano de newsletter, de 31 dias seguidos de BEDA, de um Blogmas que não deu muito certo, mas que se supera pela tentativa pra sempre registrada aqui, ano de conhecer gente nova não só na vida real, porque o virtual também existe e está cheio de pessoas incríveis com quem troquei e-mails, tweets e mensagens pelo Facebook (e cara, eu tenho pessoas de outros Estados no meu Facebook!!! Pessoas que nunca vi!!! E tenho total liberdade para falar com!!!).

Se eu pudesse escolher qualquer coisa pra fazer nessas últimas cinco horas que restam do ano, tentaria mandar um e-mail pra Amanda Palmer agradecendo (e ao mesmo tempo xingando, mas de uma maneira boa) por me fazer perceber que os outros são só pessoas, e que estar disposta ao que, e a quem vier, é a única coisa necessária para ser sempre melhor. E já que é preciso encerrar esse texto de algum jeito, que seja citando Drummond.

"[...]Teus ombros suportam o mundo 
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda. 
Alguns, achando bárbaro o espetáculo, 
preferiram (os delicados) morrer. 
Chegou um tempo em que não adianta morrer. 
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. 
A vida apenas, sem mistificação." 

Os Ombros Suportam o Mundo, Carlos Drummond de Andrade.

Até 2017!

Ceia de natal fictícia.



Que o meu Blogmas falhou vocês já perceberam, mas falhar com os posts coletivos é algo que não vai acontecer. Como comentei no post das crushes, me juntei com as meninas (Ana, Manu, Mia, Michas) e até a próxima semana estaremos fazendo posts coletivos em nossos respectivos blogs. Nessa eterna dúvida para saber se é TAG ou meme, digo que montamos um esquema para criar nossa ceia de natal fictícia com convidados especiais de séries ou livros. Segurem os garfos, escolham seus lugares, abram os botões da calça e venham comigo.

Um personagem para preparar a ceia.



Como boa fã de Friends deixo as honras de escolher o que preparar para nosso banquete nas mãos de Monica Geller. A vemos trabalhando como chefe em toda a série, com exceção, é claro, da época em que usou peitos falsos e dançou em cima de um balcão, e baseado nas mesas que a personagem apresentou nos episódios de Ação de Graças tenho certeza que o natal com ela na função será ótimo. Só espero que não convide o Joey para vir junto, pois temos muitos convidados e precisamos dividir a comida. 





Um personagem para ser o anfitrião.

Como anfitrião, não consegui pensar em personagem melhor que Mrs. Darcy. Ele certamente saberia receber todos os convidados de forma honrosa, e o som do piano tocando ao fundo de sua mansão não deixaria a desejar de forma alguma.


Um personagem que pode causar uma cena.


Se antes comentei que Joey poderia ser um problema, mudei completamente de ideia quando pensei que talvez Monica pudesse convidar Will Colbert. Personagem interpretado por Brad Pitt no episódio "The One with the Rumor". Ross com toda certeza tentaria apoia-lo por serem amigos de longa data, acabaria em mais uma discussão com Rachel para saber se eles estavam ou não dando um tempo e tudo isso levaria Mrs. Darcy a educadamente retirar os convidados. Tempo suficiente para Joey comer o peru sozinho. Sem dúvidas uma má ideia.

Um personagem para ser o papai noel.

Isso tá quase virando um post inteiro sobre Friends? Talvez até esteja, mas fica impossível não pensar no Ross para isso. Se com o Ben ele não pode acertar de primeira e já chegar no apartamento vestido de Papai Noel, espero que com a Emma tudo tenha dado certo.

Um personagem que é super popular.

Rachel Green é pioneira nisso. Tenho certeza que em poucos minutos estaria sentada ao lado da Elizabeth questionando como ela e Mrs. Darcy se conheceram, e provavelmente inventando histórias românticas entre ela e o Ross para contar.



Uma vilã ou vilão que merece um pouquinho de compaixão.

No meu ponto de vista, não é exatamente de uma vilã que vamos falar, mas levando em conta alguns feitiços lançados no passado, creio que Regina, a bruxa má de Once Upon a Time mereça uma cadeira na mesa de jantar e até uns presentinhos por bom comportamento.

Um casal.

Imaginar isso me deixou muito feliz, então decidi convidar Cath e Levi, de Fangirl (Rainbow Rowell). Tenho certeza que a Cath ficaria encantada por estar conhecendo Elizabet e Mrs. Darcy, e imagino uma amizade entre Levi e Joey que daria certíssimo. 

Um herói.



Oportunista que sou, chamaria ninguém menos que o Flash para depois das festas ter quem me ajudar à arrumar todas as coisas de uma maneira rápida e pratica. Juro que em troca colocarei presentes melhores para ele. 

Um personagem que ainda seja criança.

Cocei os dedos para incluir os filhos da Monica e do Chandler nessa parte, mas lembrei que o último episódio foi ao ar em 2004, e se eles nasceram naquele ano, hoje estão com 12 anos e já são pré-adolescentes (imaginem o Chandler lidando com filhos pré-adolescentes!). Sendo assim, criei um universo paralelo onde a Phoebe se tornou mãe de lindas crianças com os cachinhos do Mike que estão correndo por todos os lados e preocupando Mrs. Darcy.

Um personagem subestimado.



Contrariando todo o rumo que a ceia tomou até aqui, escolho citar Ted Mosby, de How I Met Your Mother, apesar de toda a série girar basicamente sobre ele e sua perspectiva, creio que ninguém gostaria da ideia de convidá-lo para o natal. Ele definitivamente é o tio que pega álbuns de fotos com você bebê, pelado na banheiro, e conta para quem estiver do lado sobre como você era fofo até beber muito champagne e começar a refletir sobre a vacuidade da vida em um momento em que todos só querem comer. 

Um personagem de sua própria escolha.

Sem dúvidas Gunther. A essa altura acredito que ele já tenha superado a Rachel, e o convívio deve estar bem mais fácil. Quem sabe ele até não encontrou um novo amor! Depois de tantos cafés servidos, convidá-lo para o natal é um ato muito bonito.

E vocês, como organizariam suas ceias? Me contem nos comentários, e boas festas!

Não era crush, era cilada.

Quando topei entrar no Blogmas do meu jeitinho (postando com mais frequência, mas não todo dia) só entrei de cabeça nessa graças as maravilhosas Manu, Ana, Mia e Michas, que estão dando todo o apoio necessário em um grupo nomeado como "Cilada" e combinando posts para bichar. Entre eles, temos este que se apresenta à vocês no momento: depois do meu top 5 fictional male crushes no BEDA, eis aqui o "Não era crush, era cilada" pois todos os crushes que serão citados aqui só machucam e abusam do meu coração.

1. Crush da literatura.



Esse é um problema muito comum na vida de um leitor: a paixãozinha por um personagem que está ali, em uma página de livro. A vontade que eu fiquei de citar o Mrs. Darcy, vocês não fazem ideia! Mas como já fiz uso dele no meu top 5 anterior, dou a posição para Mrs. Edward Ferrars, de Razão e Sensibilidade. Jane Austen sabia como ninguém o jeito certo de criar homens.

2. Crush das telinhas.



Logan Huntzberger é uma enorme questão na minha vida. Nas temporadas clássicas de Gilmore Girls ele já tinha seus problemas - e eu odeio muito a forma como ele é apresentado à Rory - e o Revival só trouxe mais alguns probleminhas para o personagem, mas meu coração bate forte quando ele passa e os sentimentos são os únicos fatos.

Só acontece comigo #54



Teve esse dia, na volta do meu primeiro vestibular do ano, em que um arco-íris tímido decidiu aparecer em São Paulo (e eu posso ou não ter interpretado como um sinal pois precisava de motivação naquele momento) e meu pai, enquanto dirigia, sempre convencido de que pode me tirar do lado negro da força, comentou:

- Sabe qual o significado do arco-íris?
- Refração da luz solar.
- QUÊ?!
- É um fenômeno óptico, desvio do feixe de luz.
- ...
- Era pra eu responder sobre a história de Noé, né?
- O vestibular acabou com você, filha.

Desculpa Noé (mas sobre o vestibular meu pai tem toda a razão, acabou mesmo comigo).

Uns minutos depois passou um carro do nosso lado com dois caras, um no volante e outro no banco do passageiro, ambos com a máscara do V de Vendetta dançando música eletrônica.

Tem dias que a vida não faz muito sentido.

A gente precisa conversar sobre o primeiro episódio de Gilmore Girls.

Esse post contém spoilers do Piloto de Gilmore Girls.




Então eu voltei a ver Gilmore Girls. Logo no primeiro episódio, quando Rory ainda estudava na Stars Hollow High School, em uma conversa com Lorelai e Sookie descobre que foi aceita em Chilton, uma escola preparatória cara, cujas mensalidades são responsáveis pela aprovação de todos os seus ex-alunos em universidades como Yale e Harvard. Até então o sonho da Gilmore mais nova era cursar Jornalismo em Harvard, o que torna Chilton um grande passo rumo ao mundo acadêmico.

Quando Rory está limpando seu armário empolgada por contar a novidade para sua melhor amiga Lane, acaba conhecendo Dean, um garoto vindo de Chicago, alto, com jaqueta de couro e uma carinha de bumbum de neném que nenhuma garota aos 16 anos conseguiria controlar seus hormônios diante dela. É esse encontro que uso como ponto para esse texto. 

A tradução do título usada no nosso país não é escolhida à toa. Aqui no Brasil, quando transmitida pelo SBT, Gilmore Girls passou a se chamar Tal Mãe, Tal Filha. E como já explícito, durante as sete temporadas da série vemos que mesmo Lorelai e Rory sendo pessoas diferentes que vivem de maneiras opostas, a mãe e a filha costumam ser bem parecidas quanto ao modo que tomam suas decisões e como suas personalidades se mostram iguais com o passar do tempo - Rory pode até ser um pouco mais pé no chão que Lorelai por ter seguido a risca tudo o que precisava para alcançar seu sonho profissional, mas são vários os momentos em que notamos a sua semelhança com a mãe por agir impulsivamente sem medir as consequências de seus atos - o que já pode ser visto no Piloto da série. 



Depois do encontro com Dean e de perceber que o mesmo estava interessado nela, Rory se fecha com sua mãe que através de outra personagem (Miss Patty) descobre o verdadeiro motivo para sua filha repentinamente não querer mais ir para Chilton (algo que desejava MUITO). Ao contrário do que a garota diz, a mudança não está ligada ao dinheiro que será gasto no processo, nem mesmo as longas viagens de ida e volta diárias. Rory não quer mais ir para Chilton porque conheceu Dean, e para uma garota de 16 anos que nunca foi notada por um cara, descobrir que alguém a quer é capaz de fazê-la deixar para trás muitas coisas. E é essa a cena que nos mostra toda a base da série: uma filha que mesmo sendo diferente de sua mãe quando tinha a mesma idade, por ter uma personalidade muito parecida acaba tomando decisões no mesmo nível, uma mãe que carrega traumas de sua criação e por isso realmente acha que a filha precisa compartilhar tudo o que acontece em sua vida com ela, e uma avó que por sempre ter sido impedida de cuidar da própria filha o faz em todas as brechas que encontra. O que nos leva ao Revival lançado pela Netflix, e esse texto não terá spoilers do mesmo, mas para quem já assistiu: o rumo que a vida da Emily toma, o fato de a Lorelai continuar sendo a birrenta que se recusa a enxergar as coisas boas que seus pais fizeram por ela e o modo como a Rory administra sua própria vida além das quatro últimas palavras estavam esse tempo todo na nossa cara.

Gilmore Girls é uma série sobre pessoas, e pessoas cometem mais erros que acertos, nós sabemos muito bem disso, só é difícil quando a ficção joga essa verdade no nosso colo e não nos deixa outra escolha, né?

Ser.



Você não é o cargo superior na empresa que trabalha, não é o diploma daquela faculdade

Você é a risada que deixou escapar brincando com o cachorro, é o olhar trocado com a pessoa amada, é a noite mal dormida pensando nos problemas

Você não é o dia ao avesso em que fora da cama nada estava certo e por isso xingou todos os seus amigos (mentalmente).

Você é o dia em que ajudou alguém que nem conhecia, é a cumplicidade trocada com quem senta ao seu lado no ônibus ao deixa-lo sair sem precisar dizer nada, é a vez que procurou moedas no fundo da mochila porque queria um sorvete.

Você não é tudo o que sua mente grita sempre que um erro é cometido, você não é o que os outros te dizem que é.

Você é um conjunto da matemática básica com vários elementos pertencentes em união e não um Delta negativo que acaba com toda a equação.

Só acontece comigo #53

Ou: aquele em que eu ganhei uma libra esterlina.
Ou ainda: faz muito frio aqui em London.



Se  você visita o blog com uma determinada frequência sabe que sou adepta assídua do transporte público. Nem sempre por vontade própria, quase sempre por necessidade. E ai que tem todo aquele sistema de troco, né? O motorista sempre precisa me devolver 20 centavos, então eu sempre sei que ou serão duas moedas de 10, ou quatro de 5, ou uma de 10 e duas de 5, de modo que nunca há nenhuma confusão no processo. Olhei o troco em minhas singelas mãos e ali estavam: uma moeda de 10, duas de 5. Segui minha vida? Segui sim, assim como manda o ritual. Cheguei em casa, deixei as moedas na escrivaninha e me distrai com outras coisas. Quando voltei ao meu quarto lembrei de guardar as moedas e notei a existência do que parecia ser uma anomalia ali no meio.

A moeda de 5 centavos não era um simples plebeu, meus amigos. 

É UMA FUCKING LIBRA ESTERLINA!!!!!

Como essa moeda veio parar em um município de São Paulo? Por quais mãos passou? Que histórias presenciou? Estaria sabendo do Brexit? São tantas questões.
© Limonada
Maira Gall