Mayombe -- #MLI2017 | BEDA #09

Apesar de o fim da Maratona Literária de Inverno ter sido no dia 05 de Agosto, o BEDA atrapalhou um pouco meus planos de falar fielmente sobre todas as minhas leituras feitas nela por aqui, já que achei que seria chato começá-lo com muitos posts seguidos sobre livros. Como não sou boba nem nada, esperei um pouco para continuar falando sobre minha TBR durante Agosto.

Mayombe, romance publicado por Pepetela, autor angolano, em 1980, foi escrito enquanto o próprio participava da guerra de libertação da Angola, mostrando o convívio, a organização, e as individualidades de cada guerrilheiro do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola). O nome da obra, que pode soar estranho em um primeiro contato, remete a floresta Mayombe, onde as operações são realizadas. Além de cumprir o desafio "7. Ler um livro que se passe durante um período histórico importante.", é leitura obrigatória para quem presta o vestibular da Fuvest -- foi inserido na lista em 2016 -- e em 1997 rendeu o prêmio Camões para o autor. Como comentei no post em que apresentei minha TBR da Maratona, o livro seria lido em pdf, já que não o encontrei em nenhuma biblioteca próxima e não disponho de situação financeira avantajada, mas se tem algo que não posso deixar de agradecer, são as pessoas que conheci nessa longa jornada de pré-vestibular. Uma amiga do cursinho que tem o livro me emprestou seu exemplar, o que tornou minha leitura mais proveitosa.



Contexto Histórico. 

Para se entender o enredo, é interessante que antes da leitura se faça um estudo da participação do autor no MPLA, e do contexto histórico em que a libertação de Angola se deu, visto que a obra é muito fiel a esses detalhes. Um dos pontos verídicos mostrados no livro, são os nomes de guerra que cada participante do Movimento obtém. O nome real do escritor, é Carlos Maurício Pestana dos Santos, mas quando serviu na guerrilha angolana, ganhou a alegoria de Pepetela, que curiosamente significa pestana -- assim como vemos na obra, com personagens nomeados como Teoria, Sem Medo, Verdade, Lutamos, Mundo Novo e Ingratidão. 

Quanto ao serviço por ele prestado no MPLA, considerado um grupo anticolonial, socialista-comunista, sabe-se que no ano de 1971, Portugal era governado pela ditadura de Salazar, afetando suas colônias -- como Angola, que com o apoio do Movimento Popular de Libertação de Angola obtém sua independência em 1974, explodindo a seguir em uma guerra civil. As revindicações por uma nação mais justa e igualitária no pós-Segunda Guerra Mundial, têm seus ideais disseminados por intelectuais e artistas, como é o caso de Mayombe.

Atualmente, o MPLA tornou-se um partido que comanda a Angola. 


A Obra.

O enredo é dividido em seis capítulos -- A Missão; A Base; Ondina; A Surucucu; a Amoreira e o Epílogo. Além de contar detalhadamente o cotidiano dos guerrilheiros contra as tropas portuguesas, e de possuir uma boa análise psicológica de seus personagens, em que conhecemos os motivos que levam cada um a lutar por tais ideais de libertação -- e em alguns casos, acompanhar até mesmo a falta dos ideias apesar da participação no Movimento -- é interessante notar a democratização da voz por meio do narrador personagem com foco múltiplo, o que faz jus a igualdade pregada pelos guerrilheiros até certo ponto, visto que Ondina, a única mulher citada no livro, não possui voz na narrativa, mostrando assim a desigualdade de gênero durante a luta.

A crítica as lutas de grupos que mesmo com ideais comuns, participam cada um a sua maneira sem se preocupar em obter um consenso, causando desproporções enormes e distorções aos olhos daqueles que ainda não os seguem se faz presente do início ao fim.

"— Vocês ganham vinte escudos por dia, para abaterem as árvores a machado, marcharem, marcharem, carregarem pesos. O motorista ganha cinquenta escudos por dia, por trabalhar com a serra. Mas quantas árvores abate por dia a vossa equipa? Umas trinta. E quanto ganha o patrão por cada árvore? Um dinheirão. O que é que o patrão faz para ganhar esse dinheiro? Nada, nada. Mas é ele que ganha. E o machado com que vocês trabalham nem sequer é dele. É vosso, que o compram na cantina por setenta escudos. E a catana é dele? Não, vocês compram-na por cinquenta escudos. Quer dizer, nem os instrumentos com que vocês trabalham pertencem ao patrão. Vocês são obrigados a comprá-los, são descontados do vosso salário no fim do mês. As árvores são do patrão? Não. São vossas, são nossas, porque estão na terra angolana. Os machados e as catanas são do patrão? Não, são vossos. O suor do trabalho é do patrão? Não, é vosso, pois são vocês que trabalham. Então, como é que ele ganha muitos contos por dia e a vocês dá vinte escudos? Com que direito? Isso é exploração colonialista. O que trabalha está a arranjar riqueza para o estrangeiro, que não trabalha. O patrão tem a força do lado dele, tem o exército, a polícia, a administração. É com essa força que ele vos obriga a trabalhar, para ele enriquecer.”

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Comentários

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  1. Tatiiii JÁ PEDINDO DESCULPAS PELO COMENTÁRIO BOSTA, vc falou tão bonito dos livros aqui no blog e eu quero mimar você mas não sei o que dizer. Perdão. Nunca tinha ouvido falar desse livro (os vestibulares fazem a gente ler coisas que jamais olharia na estante, help) mas fiquei interessada pelo que você contou aqui (e seu jeito de resenhar, aaaaaaa <3). Também conheço muito pouco sobre a história da Angola, mas instrução e conhecimento nessa vida nunca são demais né

    :***

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