Para ler ouvindo:
Hoje parei para ler o Self Image de 2021/2022 e não reconheci a pessoa que escreveu aquilo. Tive a sensação de que na realidade, a minha versão do ano passado não estava sendo sincera nem com ela mesma. Foi sim sincera no que dizia respeito às partes ruins do ano e da personalidade do momento, o que hoje entendo perfeitamente ser um traço que luto muito contra, mas que tenho cada vez mais abraçado e aceitado que faz parte de mim: o costume de olhar e relembrar e remoer o que machucou. Mas não foi sincera quando disse que não tinha mais tanta urgência em pertencer; não foi sincera quando disse que estava tentando ficar bem consigo – o restante de 2022 viria para confirmar o quão autodestrutiva eu posso ser, intencionalmente ou não. As dúvidas, porém, não só continuam as mesmas como também surgem em um looping incessante há meses (eugostodomeucurso?euvoufazeroutro?eugostodaspessoas?aspessoasgostamdemim?equemsoueualguémmediz?). Assim como a Taylor Swift em Anti-Hero, tenho a sensação de não ter ficado nem um pouco mais sábia apesar de mais velha. E velha é uma palavra que não sai do meu looping há um tempo, desde que ouvi todas as pessoas que, brincando ou não, reforçam como estou velha para estar em um curso de graduação. Encarar o calendário de 2023 e saber que esse ano faço 26, então, tem ajudado menos ainda a tirar de mim a sensação de estar fora do tempo perfeito. A vida não deveria ser outra quanto você já está mais perto dos 30 que dos 18? Se sim, porque eu ainda me identifico com a Olivia Rodrigo dizendo que "they say that this is the golden year but I wish I could disappear"?
Não gosto da forma como me alimento.
Não gosto de como não pratico exercícios físicos.
Não gosto de como não tenho tempo para nada.
Não gosto de ficar ouvindo os outros dizerem o que preciso fazer e como preciso melhorar. Porque eu percebo tudo o que está errado o tempo todo e reforçar isso é ver que o erro já sou eu. Que errei naquele ano em que escolhi um curso aleatório. Que errei quando decidi encarar a ansiedade de uma forma patológica mas sem o compromisso real de cortar tudo o que fizesse mal e a aumentasse. Que erro cada vez que priorizo o bem-estar que definitivamente não é o meu mas que de certa forma me dará paz por estar fazendo o melhor para o outro.
Que o erro não está aqui. O erro já me fez ser quem sou.
toda vez que leio algo que limite a idade "correta" de estar fazendo um curso, eu inevitavelmente lembro da Dona Rosinha (parece nome de personagem inventado, mas ela existiu) que estudava comigo no curso de história. enquanto eu tinha 19 anos, ela tinha 63. ou do meu ex orientador, que achava IMPOSSÍVEL fazer uma nova graduação se ele já possuía 2 post docs. eu penso que limitar o tempo de estudo é limitar o tempo de conhecer e experimentar. as pessoas infelizmente seguem regras sociais muitas vezes absurdas e quando veem a gente, que está tentando, que quer mudança, que teve coragem de desistir (e depois resistir), começam a questionar. às vezes acontece internamente mesmo, né?
ResponderExcluireu completamente entendo essa sensação de "não sou mais adolescente" misturada com "cadê a vida adulta que me prometeram?" - li seu texto pensando em como estamos constantemente desabafando um enorme "por favor, com licença, me deixe viver no meu próprio ritmo, eu não sou mais criança, pelo amor de deus", e pensei: será que escritores do passado sentiam isso, ou é nossa geração que foi a única azarada mesmo?
eu fui reler e percebi que o texto fala mais de você pra você, mas isso dos outros questionarem seus estudos me engatilhou kkkkk
enfim, eu desejo e espero que nesse 2023 haja mais abertura de diálogo de você consigo mesma, e menos opinião dos outros de QUANDO ou como, ou o quê na sua vida. o tempo é mesmo implacável, mas ele abranda quando a gente não se cobra tanto. eu sempre penso que ele é como o ventou ou a correnteza: se você bate de frente, vai ter aquela força te devolvendo a mesma energia que você emprega (ou mais, já que você sempre perde); mas se você vira de costas e deixa o tempo, o vento, ou a correnteza te levar, você segue o ritmo.
um bom ano pra você! que o próximo self-image seja positivamente surpreendente pra você e nós leitores :)
Não tinha muito ideia do que era o self image, mas entendi um pouco agora que li o seu. Acho que eu meio que faço isso no meu journal, não sei se conseguiria publicar, pois escrevo uma coisas meio pesadas sobre mim mesma e algumas coisas que eu queria que fossem tão diferentes, que eu acho que deprimiria quem os lesse, rs.
ResponderExcluirEntão acho bem corajosa da sua parte se mostrar assim pra nós que te lemos (embora eu ache que você escreve mais pra si mesma né?).
Vai por mim, essa coisa de idade e do que as pessoas falam sobre o "tempo certo" para fazer o que se quer fazer não existe. Além de disso quebrar o padrão que a sociedade impõe que a gente aja e seja é bom, é um choque no sistema, as pessoas não esperam certas atitudes, e eu acho isso bem legal porque (eu pelo menos) tenho ranço de obedecer ao que os outros querem que eu faça e seja. Eu tô um pouco contaminada pela minha última leitura que foi "Querida konbini" e nesse livro a autora fala um pouco sobre isso. Recomendo muito aliás, pra pensar sobre certas coisas.
Aliás, gostei do comentário da Helen e acho que se nos juntássemos pra conversar iríamos falar muito sobre tudo isso hehe.
*eu completamente entendo essa sensação de "não sou mais adolescente" misturada com "cadê a vida adulta que me prometeram?"*
Essa parte do que ela falou eu me sinto também, e olha que já tenho meus 36, então tá vendo como não tem idade pras coisas, inseguranças tomam a vida de qualquer um - mas não tô dizendo isso como um conselho, é só pra dar um certo apoio e você não se sentir tão mal com suas escolhas e o jeito que se entende. Enfim, espero que 2023 seja um ano melhor pra você também, e te desejo só coisas boas ;)
p.s: adorei o tema novo <3
Eu terminei a minha segunda graduação com 29 anos (demorei só três anos na faculdade porque consegui aproveitar muitas matérias da graduação anterior) e foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado. Hoje eu não consigo me ver trabalhando com a primeira formação, ainda é difícil conseguir clientes e as vezes sinto que tive um tempo perdido por ter me encontrado meio tarde. Porém foi ótimo ter me conhecido melhor após os 30, e é bom fazer o que eu realmente gosto.
ResponderExcluirÉ difícil esquecer a nossa idade, mas nunca é tarde para aprendermos sobre nós mesmas.
Sinceramente, acho muito estranho como o ano de 2022 foi esquisito para todo mundo, em várias maneiras diferentes. Eu conquistou um sonho de ir estudar em uma federal, comecei a morar sozinha, vivi inúmeras experiências e encontrei o amor da minha vida que me trata igual uma princesa. Mas mesmo assim... quando penso em 2022, só consigo sentir a ansiedade que eu vivi, de todos os momentos que não consegui nem respirar e dos momentos que me odiei (foram muitos). Quero 2023 diferente. Quero menos vida digital e mais conexão comigo mesma, menos ansiedade, mais aceitação... te desejo isso também!
ResponderExcluirAbraços,
Clara.
Eu tenho 31 e não sou formada. Se um dia eu voltar para a faculdade, provavelmente vou ser uma das pessoas mais velhas da minha turma. As pessoas falam de mim porque não sou formada (às vezes isso me afeta mais do que outras vezes) e, se um dia eu me formar, elas vão achar outra coisas para falar. As pessoas só servem para criticar, mas o problema é que nós somos os nossos piores críticos :/
ResponderExcluirTenho 26 anos, e passei os últimos 6 anos em um emprego que sugou toda a minha alma criativa, destruiu minha saúde mental e para piorar sinto que não evolui nada na minha luta com minha visão de quem sou, autoestima, enfim. Não me vejo como alguém que merece ser amada e que merece ter sucesso. No final do ano passado, simplesmente decidi largar esse emprego e tentar novamente a carreira como fotógrafa, que eu tinha fracassado aos 20 anos e entrei nesse tal emprego somente pra comprar outra câmera, e aí fiquei por 6 anos. Não fiz faculdade, e isso na visão da minha família é algo ruim. Só não sou a filha problema porque tenho um irmão que se encarrega disso. Acho que o maior problema em tudo isso é a comparação. Afinal, se desenvolvemos essa imagem tão ruim, esse desespero em descobrir nossa identidade e fazer algo dar certo, é porque nos comparamos com algo ou alguém. E eu até poderia escrever aqui frases motivacionais mas seria hipocrisia da minha parte enquanto ainda estou na mesma luta diária em me descobrir e não me autodestruir e ser tão crítica comigo mesma. Mas, a parte que traz alguma luz nisso tudo, é que um ano se iniciou e tempos ruins são só tempos, eles passam. Uma hora ou outra. Claro que existem dilemas que podem nos acompanhar a vida inteira, mas as vozes vão ficando mais baixas.
ResponderExcluirCom amor, Tati.
https://tatilucindofoto.blogspot.com/
Isso de gostar do curso eu me fiz durante todo período de faculdade, acho extremamente normal assim como outros questionamentos também, afinal se não reclamarmos da vida ou por defeitos nela, não estaremos sendo nós mesmos. Uma coisa que antes eu criticava demais quando trabalhava fora era, não ter tempo, agora que minha faculdade e estágio terminaram eu reclamo de não ter nada em mente, entende? Só não podemos deixar que isso tome conta, e devemos sim tentar mudar algo que não nos agrada, de forma sutil e sem forçar nada... PROCESSO. Espero que 2023 te faça sentir melhor e menos sobrecarregada, e esquece isso de questionar o que as pessoas pensam de você, elas provalvemente não sabem nem sobre elas mesmas, para te criticar de algo!
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