A passagem dos anos no calendário traz consigo a diminuição das nossas células; mesmo as perdendo, a sensação de acúmulo no meu corpo aumenta à cada 11 de Maio porque nessa mesma data -- em 1997, o dia das mães --, estive nos braços de alguém pela primeira vez. Vinte e um anos depois percorri outros, deixei e fui deixada com ambos esticados esperando por abraços que não vieram, perdi tantas e tantas células, roupas, amigos, cabelos, costumes e incontáveis segundos, mas a cada vez que surge a data cuja memória envolve meu nascimento, o peso e a perda aumentam.
Pesa por sentir que deveria ser mais quando ainda me sinto tão pouco, sendo cada peso contraditório por sempre estar acompanhado da sensação de ausência de tudo que sei não só ser, como ter sido. Vez ou outra me pego como um animalzinho que ainda não entende muito bem seu próprio corpo: me mordo sem reconhecer que por mais estranho que seja, aquilo também sou eu; corro em círculos em busca de mim sem perceber que estou ali, inteiramente presente naquele giro, mesmo que enjoada e cansada de procurar por um bando que me conforte quando posso muito bem seguir com meus próprios instintos.
No fundo sei que não estive rodando ao longo dos 21 anos que se passaram, lembro bem de carregar certezas e longas caminhadas em linha reta, mas ainda assim me enxergo como o entre. Estou entre as oportunidades de ser quem quero, entre o que fui e o que tento ser, entre os que foram e os que ainda serão, e entre as idades que separam a vida em seu início da sua continuação já determinada. Carrego o peso de ser não sendo e a perda de ter sido. Sou e estou entre.
No fundo sei que não estive rodando ao longo dos 21 anos que se passaram, lembro bem de carregar certezas e longas caminhadas em linha reta, mas ainda assim me enxergo como o entre. Estou entre as oportunidades de ser quem quero, entre o que fui e o que tento ser, entre os que foram e os que ainda serão, e entre as idades que separam a vida em seu início da sua continuação já determinada. Carrego o peso de ser não sendo e a perda de ter sido. Sou e estou entre.