Self image 2020


Sinto que não sou. Não sou ninguém porque perdi a chave para o quartinho da bagunça em que ficavam guardadas todas as composições da minha personalidade. Nos últimos tempos aprendi muito sobre abrir mão, enfrentar o novo e dar a cara a tapa, mas em algum momento também esqueci como era ser quem sempre fui, e não consigo entender se isso aconteceu porque me perdi ou porque mudei e não me reconheço. 


Como não sei quem sou, vou falar sobre quem fui. Gostava e fazia muitas coisas sozinha — porque eu era a minha melhor companhia —, mas em algum momento me vi entre pessoas e por mais que eu soubesse que nem todas elas deveriam ter tanto espaço assim e que havia muita desproporcionalidade entre o que eu dava e o que recebia, insisti. Insisti porque esse era um hábito da versão antiga, aquela que ainda não entendi se perdi ou se mudei, que sempre deu oportunidades extras para quem quisesse reparar erros, até chegar ao final do ano carregando mais do que deveria, tão sufocada que qualquer pedido a mais seria o suficiente pra causar uma explosão, daquelas que inutilizam todo o local. 


Então eu mudei. E nisso eu sei que mudei, mas demorou, porque aconteceu só nesse início de novo ano. Falei mais o que eu pensava, o que eu sentia, apontei o dedo no passado pra dizer que aquilo machucou e que não era ser amigo, e que se fosse, eu preferia não ter. Opinei mais em voz alta e mostrei que não, não concordo, e que se eu pude engolir tanta coisa por um ano todo, ninguém vai morrer por ter que engolir por um dia. 


Estendi em um local plano todas as coisas que aconteceram, as pessoas que permaneceram, as que surgiram, e com o dedo em cada ferida remodelei tudo e todos que eu queria ter ou não por perto. Tem funcionado. Fiquei mais leve dando menos atenção pra uns, tratando da mesma forma outros, deixando claro que quero ter por perto, mas que não vou mais estar sempre lá — pra isso basta que a pessoa também esteja —, e a melhor parte: fui embora e fui sozinha, porque o único par de mãos que sempre estará comigo, é o meu. Isso eu sei que aprendi.


A ideia do Self Image é do Eric que os publica anualmente. No blog você encontra as versões de 20142015201620172018 e 2019.

Comentários

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  1. Nós mudamos muito com o passar do tempo. Algumas vezes mudamos porque amadurecemos e outras vezes porque somos obrigados a isso.
    Gostei dessa parte do texto "porque o único par de mãos que sempre estará comigo, é o meu. Isso eu sei que aprendi", no meu caso, além das minhas mãos eu conto com as maõs de Deus também. Sabe-se lá o que seria de mim sem Ele para me sustentar em momentos como esse...

    Beijo enorme! ❤ | Quase Aurora

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  2. Quero muito ser uma pessoa que não liga para a opinião dos outros. Às vezes acho que já atingi esse objetivo, mas outras vezes acho que ainda falta muito. O negócio é que eu quero ficar satisfeita só comigo.

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