As Brumas de Avalon | Rata de Biblioteca

As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley, é uma série de livros publicada pela primeira vez em 1982, com a obra introdutória nomeada de A Senhora da Magia. Nela, conhecemos os personagens por trás do planejamento e execução da futura ascensão do Rei Arthur, com foco principal nas mulheres das lendas arturianas, como, por exemplo, a conhecida Morgana, retratada comumente como uma bruxa infeliz com o reinado de Arthur, mas que nas mãos de Marion ganha desenvolvimento próprio, sendo uma mulher destinada à Ilha de Avalon. Além de Morgana, conhecemos mais a fundo quem são Igraine, Gorlois, Viviane, e Morgause. 


Viviane, a Senhora do Lago e sacerdotisa de Avalon, é uma poderosa mulher capaz de prever e ajustar, através de seus atos mágicos, o destino da Ilha, que sofre com a ascensão do cristianismo ao seu redor, ameaçando sua existência e a perpetuação de suas crenças. É ela, ao lado de Gorlois, quem prevê o nascimento de Arthur e as consequências deste, fazendo o possível para que sua irmã o tenha e o entregue para cuidados longe do reinado, até sua idade certa para governar, momento que até o final do primeiro livro, é planejado e ponderado. 


É digno de nota a construção de cada personagem, retratadas como mulheres de muita força, mas ao mesmo tempo, de uma forma que não retira tal característica delas em momento algum, sensíveis e cientes de como a sociedade cristã as vê e tudo o que isso implica para suas vidas. Mesmo em seu primeiro livro, As Brumas de Avalon dá às personagens tons profundos e pouco falados em outras obras, mais focadas nos homens das lendas. 


:・゚✧*:・゚✧ POR QUE LER MAIS UM LIVRO SOBRE as lendas arturianas? *:・゚✧*:・゚

Como dito anteriormente, As Brumas de Avalon se difere ao retratar mais profundamente quem são as mulheres envolvidas na ascensão do Rei Arthur e o que as envolve, tornando-se, dessa forma, oposto a outras obras sobre as lendas. 


*:・゚✧*:・゚✧ POR QUE NÃO LER "as brumas de avalon: a senhora da magia"? *:・゚✧*:・゚✧

Se sua preocupação é não ter tido contato prévio com as lendas de Arthur, o mesmo não se faz necessário para leitura do livro. Eu mesma o li sem ter tido nenhum tipo de contato anterior, além do conhecimento prévio de quem era Arthur. No entanto, se você não estiver disposto/não gostar muito de fantasias medievais, talvez a leitura não seja para você.


Pra quem é dos filmes: o livro possui um filme homônimo, de 2001, que na época, foi exibido pela TNT na televisão como uma minissérie. Se assistido como longa, sua duração chega a três horas. 
Pra quem é da Netflix: Cursed, A Lenda do Lago, série lançada pelo serviço de streaming em 2020, pode ser uma boa para quem gostar do universo arturiano e quiser se aventurar mais por ele. 
Pra quem é dos livros: a série em questão, Cursed, é baseada em um livro homônimo. 
Pra quem é dos textos: no Querido Clássico, explorei um pouco mais a questão da relação entre o cristianismo e o paganismo, e como o patriarcado coexistente aos ideais cristãos silenciou as mulheres da Ilha de Avalon. 


Em um quote: 

“[…] pelo pensamento criamos o mundo que nos cerca, novo a cada dia.”


Só acontece comigo #86

Minha faculdade virou EAD por causa da pandemia. Não importava se meu curso tem muito conteúdo prático, nem se o mundo está um caos: as aulas iriam retornar online e ponto. Por um lado é bom, poupa dinheiro, sono, tempo e psicológico. Só não impede que eu passe minhas vergonhas de sempre. 


A aula era de uma liga acadêmica. Eu não estava conseguindo conectar meu microfone, então fiquei um tempo tentando resolver a questão, um mau contato entre ele e minha CPU. A aula continuou e o problema foi resolvido. 


Em um determinado momento, minha mãe, muito curiosa, parou do meu lado e expressou suas opiniões sobre as pessoas que estavam com as câmeras ligadas:


— Olha a cara daquele ali, ele tá muito feliz!

—  É ele o orientador da minha pesquisa, é muito bonzinho. 


E aí eu mexi meu mouse.
E descobri que meu microfone estava ligado.
E aberto.
E funcionando muito bem. 


Podia ser pior, né? Eu poderia ter falado mal dele...


A Million Little Things: a importância de se falar sobre suicídio de forma responsável na TV



A Million Little Things, série que no Brasil está inclusa no serviço de assinatura da GloboPlay, é uma produção da ABC Studios de 2018, criada por DJ Nash. O enredo, desde o primeiro episódio, gira em torno de um tema que mesmo com as constantes tentativas de torná-lo mais discutido pela população, ainda é camuflado por medos e pré-conceitos: o suicídio. 


Atualmente na segunda temporada, com renovação para a terceira já confirmada, a série de drama leve, além de tocar onde quase ninguém tem coragem, consegue o fazer de forma muito responsável. Nela, conhecemos um grupo de amigos que se uniu por acaso, e que agora precisa lidar com a grande perda de um dos seus membros após sua morte inesperada. Além disso, cada personagem tem seus problemas pessoais aprofundados ao longo dos episódios, o que torna a série muito real.


Se algumas produções que retratam o tema costumam falhar ao colocá-lo como única possibilidade de melhora para quem está em sofrimento, A Million Little Things não têm o mesmo problema. Enquanto o primeiro episódio se inicia com a possibilidade de um dos protagonistas optar pelo suicídio, seu término, com a consumação do ato por outro personagem, leva o primeiro a não realiza-lo ao receber a noticia, e a, por fim, comunicar as pessoas próximas sobre como tem se sentido, e, no decorrer da série, buscar ajuda adequada de profissionais. 


Frequentemente comparada a This is Us, da NBC, pela grande presença de carga emocional, a série da ABC é tão boa quanto sua concorrente, assumindo o papel de conscientizadora sobre assuntos não retratados na outra. Alguns exemplos disso: 


A luta contra o câncer. 


Maggie Bloom, interpretada pela atriz Alisson Miller, é incluída no enredo ao conhecer Gary Mendez (James Roday Rodriguez), em um grupo de apoio a pacientes em remissão do câncer de mama. Em um primeiro momento a personagem, que posteriormente torna-se par romântico de Gary, tem com ele um atrito, por não entender a razão para um homem estar naquele grupo, sentindo-se desrespeitada. É quando Gary esclarece: homens também possuem câncer de mama, e ele, assim como todas as mulheres presentes, está em remissão do seu. Ao retratar a doença, a série não torna seus personagens apenas pacientes de um grave diagnóstico, demonstrando seus medos e desistências por ela influenciados, mas também como continuam a vida apesar dela, abrindo-se a novas oportunidades de emprego, amizades e relacionamentos amorosos. Ponto importante, tanto para aqueles em tratamento ou em remissão, a série também pontua de forma excelente a importância de um grupo de apoio, seja ele qual for, para aqueles que se encontram abalados com a notícia. 


A depressão e a masculinidade tóxica. 


Rome Howard (Romany Malco) é um homem negro incapaz de falar sobre seus sentimentos e sua depressão. A série investe no tema abordando sua infância e relação com o pai, que desde cedo o incentivou a pressupor que a masculinidade envolve, entre muitas outras coisas, a suspensão de suas emoções, e que por seu histórico de trabalhador, vê na depressão uma desculpa de pessoas pouco motivadas ou, como costuma dizer, "uma doença que brancos ricos possuem". Buscar ajuda para o que sente, falar a respeito com sua esposa e, explicar para seu próprio pai como vem se sentindo, são os principais assuntos aliados ao personagem. Além disso, Rome continuamente aborda o racismo e a dificuldade do homem preto em expressar-se dentro de uma sociedade que mal o aceita.


A retratação da bebida alcoólica como um vício. 


Eddie Salive, personagem do ator David Giuntoli, é um músico afastado dos palcos após seu história de problemas com o álcool. Sóbrio, já casado e com um filho pequeno, Eddie está anos a frente de seu tratamento, e mesmo assim, constantemente apresenta a dificuldade de manter-se longe do vício, tão presente em comemorações e tão fácil de tornar-se um escape para situações dolorosas. Assim como com Maggie e Gary, o grupo de amigos é uma ótima fonte de apoio, sempre respeitando a presença de Eddie ao não incluir bebidas em suas reuniões e ao mesmo tempo, observando-o cuidadosamente para que não volte ao antigo hábito.


A mulher como chefe de família. 


Casada com Eddie, Katherine  Saville (Grace Park) é a principal responsável pelo sustento da família. Sua personagem, encarada como uma mulher forte e emocionalmente fechada no inicio da série, é a retratação fiel da mulher que trabalha, cuida do filho, da casa, e sofre com o distanciamento do marido que não a entende por completo. 


A maternidade aliada a perda do cônjuge. 


Delilah Dixon (Stephanie Szostak), é a viúva do já citado personagem que falece no primeiro episódio (mas que está sempre incluso na série nas memórias encenadas). Com dois filhos adolescentes, Delilah precisa lidar com a perda do marido e a confortar os filhos ao mesmo tempo em que lida com sua própria dor. Além disso, o enredo explora Delilah como, acima de tais características, uma mulher ainda em idade ativa, com desejos e sonhos a realizar. 


A rede de apoio  — que também precisa dele. 



Regina Howard, na vida real, Christina Moses, interpreta a esposa de Rome. É ela sua principal fonte de apoio ao longo da problemática que o envolve, mas é também dela o papel de demonstrar que ser uma rede apoio não significa não precisar de uma. 

Nas duas temporadas já gravadas são muitos os outros bons pontos levantados pela série, e citá-los aqui seria tornar a experiência de assisti-la menos enriquecedora. A Million Little Things é atual, e ao mesmo tempo que dramática por demonstrar a vida como ela realmente é, leve e bem-humorada em não resumi-la a apenas isso. 

© Limonada
Maira Gall