Só acontece comigo #92

Ter uma cachorrinha, mas não ter um carro, causa algumas perturbações aqui em casa, já que as quatro patas não aguentam longas distâncias como as quatro rodas automobilísticas. Agora que moramos em um local cujos veterinários estão mais longe, optamos por não forçar a Paçoca a andar até eles, então começamos a pedir para que motoristas de Uber/99 nos levassem até os médicos quando ela precisa, sempre perguntando antes, pelo aplicativo, se tudo bem levar um cachorro. Alguns fazem cara feia, mas a gente finge não ver e segue a vida, até que chegou esse dia, em que não deu mais pra seguir. 

Estávamos saindo do veterinário e fiz o que já é nosso padrão: ficar na calçada, pedir o serviço pelo aplicativo e perguntar pelas mensagens se a pessoa se incomoda em levar a cachorrinha assim que a viagem é confirmada. Recebemos um "Claro, sem problemas!" como resposta e por isso entendemos que claro, sem problemas

Até o carro chegar, parar no sentido contrário ao nosso em uma avenida movimentada, nos olhar e dizer "Vou fazer o retorno para vocês não precisarem atravessar a avenida!", ligar o carro e nunca mais voltar. 

Você teria coragem de negar uma carona para essa cachorrinha? 

Self image 2023

 

Para ler ouvindo: 



I have this thing where I get older, but just never wiser.

Hoje parei para ler o Self Image de 2021/2022 e não reconheci a pessoa que escreveu aquilo. Tive a sensação de que na realidade, a minha versão do ano passado não estava sendo sincera nem com ela mesma. Foi sim sincera no que dizia respeito às partes ruins do ano e da personalidade do momento, o que hoje entendo perfeitamente ser um traço que luto muito contra, mas que tenho cada vez mais abraçado e aceitado que faz parte de mim: o costume de olhar e relembrar e remoer o que machucou. Mas não foi sincera quando disse que não tinha mais tanta urgência em pertencer; não foi sincera quando disse que estava tentando ficar bem consigo – o restante de 2022 viria para confirmar o quão autodestrutiva eu posso ser, intencionalmente ou não. As dúvidas, porém, não só continuam as mesmas como também surgem em um looping incessante há meses (eugostodomeucurso?euvoufazeroutro?eugostodaspessoas?aspessoasgostamdemim?equemsoueualguémmediz?). Assim como a Taylor Swift em Anti-Hero, tenho a sensação de não ter ficado nem um pouco mais sábia apesar de mais velha. E velha é uma palavra que não sai do meu looping há um tempo, desde que ouvi todas as pessoas que, brincando ou não, reforçam como estou velha para estar em um curso de graduação. Encarar o calendário de 2023 e saber que esse ano faço 26, então, tem ajudado menos ainda a tirar de mim a sensação de estar fora do tempo perfeito. A vida não deveria ser outra quanto você já está mais perto dos 30 que dos 18? Se sim, porque eu ainda me identifico com a Olivia Rodrigo dizendo que "they say that this is the golden year but I wish I could disappear"?

Não gosto da forma como me alimento. 

Não gosto de como não pratico exercícios físicos. 

Não gosto de como não tenho tempo para nada. 

Não gosto de ficar ouvindo os outros dizerem o que preciso fazer e como preciso melhorar. Porque eu percebo tudo o que está errado o tempo todo e reforçar isso é ver que o erro já sou eu. Que errei naquele ano em que escolhi um curso aleatório. Que errei quando decidi encarar a ansiedade de uma forma patológica mas sem o compromisso real de cortar tudo o que fizesse mal e a aumentasse. Que erro cada vez que priorizo o bem-estar que definitivamente não é o meu mas que de certa forma me dará paz por estar fazendo o melhor para o outro. 

Did you hear my covert narcissism lightly disguised as altruism.

Que o erro não está aqui. O erro já me fez ser quem sou. 

It's me, hi, I'm the problem, it's me.

A ideia do self image é do Eric que os publica anualmente. No blog você encontra as versões de 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 20192020, e 2021/2022.
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Maira Gall