Sempre tive o dobro da dificuldade considerada normal para me aproximar de pessoas novas. Cresci sendo filha única com primos mais velhos, que eu raramente via, e quando isso acontecia, costumava ser quase um objeto nas mãos deles - eu podia brincar, mas tinha que ser tudo conforme mandassem. Para evitar que eu crescesse sem conexão com outras crianças, minha mãe me matriculou em uma escolinha quando eu tinha um ano e meio, talvez eu fosse mais tímida ainda se tivesse iniciado minha vida escolar aos quatro anos como a maioria das crianças, mas ainda assim o problema não foi resolvido por completo.
Antes dos quatro anos mudei de cidade várias vezes, e não lembro se tinha problemas pra começar minhas amizades do zero com as outras crianças por motivos óbvios. Dos quatro aos seis anos permaneci na mesma escola, aos sete fui para uma nova escola onde fiquei só o primeiro semestre do ano, como dei sorte de chegar em um dia de trabalho em grupo não precisei me esforçar tanto para encontrar amigos novos; no segundo semestre daquele mesmo ano, fui para uma nova escola onde permaneci até os dez, ainda consigo lembrar perfeitamente do primeiro dia, sentei em uma das primeiras mesas e fiquei debruçada, em menos de cinco minutos seis crianças estavam a minha volta elogiando a capa do meu caderno e perguntando meu nome, e ali eu fiquei por quatro anos, sem precisar me preocupar em fazer novos amigos. Até que chegou o fim do Ensino Fundamental I e com ele eu teria que mudar de escola novamente, nada assustador também, já que vários amigos da antiga escola caíram na mesma sala que eu; depois de quatro anos, como a escola nunca mudava a composição das salas, eu já era amiga de mais da metade da classe. O Ensino Médio não foi diferente, conhecidos estavam na mesma escola que eu, alguns de nós caímos na mesma sala, mas foi logo ai que as coisas começaram a dar errado.
Quando a Amanda postou esse texto, foi inevitável não me identificar completamente. A escola nova era muito diferente da anterior, as pessoas eram muito diferentes, e é claro que quando você entra em uma escola onde popularidade é disputada como vagas em faculdades federais isso te faz querer ser um deles, e o maior erro da minha vida foi justamente querer. Eu tinha gostos em comum com essas pessoas - só os musicais, pra ser sincera - e isso me aproximou deles facilmente, mas me distanciou de tantas pessoas que realmente mereciam minha amizade que quando eu me toquei disso já não dava mais tempo de correr atrás do prejuízo; eu não era como eles, não gostava das conversas, não gostava das atitudes, sempre inventava alguma desculpa pra não sair com eles por não gostar dos lugares frequentados, ficava incomodada cada vez que tentava me isolar e alguém vinha atrás, mudei de escola outra vez e encontrei pessoas que me faziam sentir parte daquilo, mas só eu sei como foi difícil me enturmar de novo, só eu lembro dos textos que postava aqui no blog nessa época, e só eu sei o motivo de os ter excluído: ler tudo aquilo me fazia voltar para a época em que eu não me considerava uma pessoa que merecia ser reconhecida.
Quando a Amanda postou esse texto, foi inevitável não me identificar completamente. A escola nova era muito diferente da anterior, as pessoas eram muito diferentes, e é claro que quando você entra em uma escola onde popularidade é disputada como vagas em faculdades federais isso te faz querer ser um deles, e o maior erro da minha vida foi justamente querer. Eu tinha gostos em comum com essas pessoas - só os musicais, pra ser sincera - e isso me aproximou deles facilmente, mas me distanciou de tantas pessoas que realmente mereciam minha amizade que quando eu me toquei disso já não dava mais tempo de correr atrás do prejuízo; eu não era como eles, não gostava das conversas, não gostava das atitudes, sempre inventava alguma desculpa pra não sair com eles por não gostar dos lugares frequentados, ficava incomodada cada vez que tentava me isolar e alguém vinha atrás, mudei de escola outra vez e encontrei pessoas que me faziam sentir parte daquilo, mas só eu sei como foi difícil me enturmar de novo, só eu lembro dos textos que postava aqui no blog nessa época, e só eu sei o motivo de os ter excluído: ler tudo aquilo me fazia voltar para a época em que eu não me considerava uma pessoa que merecia ser reconhecida.
O Ensino Médio acabou e eu me vi desesperada de novo. Os poucos amigos que eu tinha estavam tomando rumos completamente diferentes dos meus, outra vez, e se eu falar que não pensei em fazer qualquer coisa que me deixasse perto de algum conhecido vou estar mentindo.
Até que eu descobri um colega que também ia fazer curso pré-vestibular e aproveitei a chance para me matricular no mesmo lugar que ele. Caímos na mesma turma e passávamos nossas aulas rindo e nossos intervalos dançando forró (ele me obrigava e eu fingia odiar, mas no fundo era muito divertido) até que no segundo semestre coisas aconteceram nas nossas vidas, eu precisei mudar de período e ele precisou trancar a matrícula, foi quando percebi minhas duas maiores inseguranças, das quais fugi por anos, acontecendo do dia pra noite: eu não sei me aproximar das pessoas e não fico bem se estou sozinha quando todo mundo a minha volta não está.
Quando cheguei no novo período, o grande problema que encontrei foi a diferença de idade, apesar de eu ser um ano mais velha que a maioria, é incrível como um ano já muda o que achamos certo ou não. A maioria ali estava terminando o Ensino Médio, e vinham direto da escola cheios de energia e disposição - rolava gente colando caderno nas cadeiras com fita crepe e rindo quando o colega em questão chegava e tentava tirar o material daquela situação. As meninas infelizmente tinham aquela mentalidade em que ao invés de conversarem com as pessoas, olhavam de longe e faziam cara feia se você não estivesse dentro do que consideravam aceitável; ainda na minha primeira semana de aula, conheci uma menina que tinha as mesmas dificuldades que eu, até começamos a conversar, o que durou só um dia já que ela nunca mais apareceu; foi quando eu faltei por quatro dias seguidos e falei pra minha mãe que não ia conseguir continuar.
Minha mãe como sempre me deu um choque de realidade e me convenceu de que a vida não era desse jeito, a gente precisa enfrentar as coisas, ficar fugindo nunca vai te levar pro caminho certo. Então eu novamente uni forças e voltei para as aulas, pra minha surpresa, uma colega do outro período pediu transferência para a mesma turma que eu, e apesar de antes nosso nível máximo de socialização ser apenas um "Oi, tudo bem?", nos aproximamos tanto que hoje ela se tornou uma das pessoas em quem mais confio. E como eu queria terminar esse texto aqui, dizendo que às vezes o inesperado acaba sendo o melhor, mas não acabou, amigos.
Faltam poucos dias para eu voltar para o cursinho, mas dessa vez não vai ter absolutamente ninguém conhecido ali, porque novamente as pessoas trilharam caminhos diferentes dos meus. Ao mesmo tempo que fico pensando o quão maravilhoso isso pode ser, quantas oportunidades de conhecer pessoas novas e possíveis amigos de verdade eu tenho, ainda sinto um enjoo enorme só de pensar que pelo menos na primeira semana eu posso ficar completamente sozinha. Eu gosto de estar sozinha, mas odeio ser sozinha, já sou insegura demais e notar que ninguém tenta se aproximar muitas vezes me faz querer desistir de frequentar os lugares, e eu sei que posso mudar isso, sei que posso iniciar uma conversa com alguém e mostrar para as pessoas pouco a pouco que estou interessada no que elas tem a me dizer, mas eu não recebi esse manual e não sei se algum dia vou aprender a me virar sem ele.
Acho que nunca fiz um post tão pessoal como esse por aqui, o que significa que eu realmente estou muito desesperada. Me desejem sorte? Me falem como vocês fazem pra conversar com desconhecidos? Eu agradeceria muito!