Tentei achar um modo de não colocar os dois pontos repetidamente no
título, mas infelizmente não foi possível. Neuras de acentuação a parte, hoje
dou entrada a um quadro importante aqui no blog, apelidado de A série teen da
vez, onde vou falar sobre todas as séries que não foram produzidas pra quem já passou
de certa idade, mas quem disse que a gente se importa? O Netflix cria séries
adolescentes sempre e eu vou assistir todas, obrigada.
Ah, o idolatrado salve-salve Netflix, que mundo incrível esse querido
criou na internet! A graça da vez estreou esse ano, uma produção canadense que
na verdade trata-se de uma readaptação da antiga Degrassi: The Next Generation,
que teve quinze temporadas e mais de trezentos episódios e contou com Drake
(sim, o moço que dança de um jeito estranho e quer que liguem para ele) e Nina Dobrev
em seu elenco; pra completar o bug na nossa cabeça, The Next Generation na
verdade é um spin-off das antigas The Kids of Degrassi Street, Degrassi
Junior High e Degrassi High. Seria então a versão do Netflix, Degrassi: Next
Class um spin-off do spin-off? Fica ai a dúvida.
A readaptação possui até o momento dez episódios da primeira temporada
disponíveis no famoso serviço de streaming, com duração de no máximo vinte e
cinco minutos cada, sua estreia é recente (15/01/2016). Agora vamos saber o que
tem de tão bom nela?
1 - Personagens negros.
A questão racial vem sendo um tema muito discutido nas terras
americanas, principalmente depois de grandes nomes do ramo artístico anunciarem
o boicote ao Oscar 2016. É extremamente
importante reforçar que Degrassi é uma série voltada ao público adolescente,
essa fase incrível da vida onde se você não sofre bullying provavelmente está o
fazendo com alguém, e ter a atitude de destacar dois personagens negros como os
mais inteligentes da sala faz uma diferença enorme, pois não se trata de uma
série em que só há negros, como geralmente costuma acontecer nos casos em que
eles não são colocados como personagens da minoria, é uma série que mistura
raças e nenhuma delas é colocada como melhor que as outras.
2 - Temática LGBT.
Além da questão racial ainda ser um problema e tanto, precisamos
conversar sobre a temática LGBT nas grandes produções. Já repararam que são
raros os casos em que os personagens gays não são tratados como motivo de
piada? Em Degrassi não vemos isso, olha que fantástico! Pelo contrário, vemos
as dificuldades dos personagens em assumir que estão fora dos padrões
impostos pela sociedade, e a série chega até mesmo a abordar de maneira
descontraída (mas jamais cômica) as doenças sexualmente transmissíveis, que no
caso foram abordadas dentro de um personagem gay pelo contexto seguido no
episódio, mas poderiam ter sido perfeitamente colocadas em um personagem hétero.
3 - Problemas familiares REAIS.
Séries adolescentes costumam levar em conta a mentalidade do seu público
alvo, o que faz com que na maioria das vezes os problemas familiares abordados
sejam completamente errados: o adolescente que pensa ser incompreendido pela
família, mas na verdade nunca deu a oportunidade aos pais de o ajudarem. Em
Next Class apesar de também ser abordado esse tipo de problema, existe um mundo
inteiro de questões familiares para tratar, desde os pais recentemente
separados até os pais rígidos demais.
4 - Assuntos sérios retratados de forma espontânea.
Estamos todos por dentro da diferença gritante que há entre tratar
assuntos sérios reais de forma espontânea e os tratar de forma cômica, certo?
Como já comentei no segundo tópico, o foco central da série é tirar os
personagens de dentro do mundinho do ensino médio e mostrar ao telespectador o
que há por trás de todos eles, levando adolescentes a pensar sobre casos como
feminismo, machismo, sexualidade, doenças raras, traição, drogas e problemas psicológicos de
forma responsável. Em momento algum a série faz com que o uso de drogas
ilícitas ou não seja algo cool como vemos em muitas séries por ai, o que pode
sim ser um pequeno passo, mas eu tenho certeza que vai fazer a diferença para
quem a assiste.
5 - Feminismo.
Goldi Nahir é uma personagem muçulmana que luta pelos direitos
igualitários para as meninas da Degrassi Community School (só eu sinto a
referência a Malala Yousafzai?) e em apenas dez episódios ela consegue levar
outras meninas da trama a entender o feminismo da maneira como ele realmente
é: não somos melhores que os homens e nem queremos ser.
Por meio de Goldi grandes mudanças começam a ser feitas dentro do próprio
colégio, a série inclusive problematiza a temática comumente encontrada em
vídeo games, onde as personagens femininas quando colocadas como guerreiras ou
heroínas sempre possuem corpos irreais para nós, mas reais para as fantasias
masculinas e roupas sensuais demais para estar dentro de uma batalha, além de
mostrar que muitas vezes os jogos fazem apologia à violência contra a mulher.
Lindo, né?
Motivo extra: referência a Gilmore Girls.
A personagem Zoe Rivas aparece em um dos episódios assistindo Gilmore
Girls (olha só o Netflix já nos avisando antes da Lauren que Gilmore Girls
estaria com eles em breve), no mesmo episódio contamos com a participação
de David Sutcliffe, o Chris.
Melhor personagem: Goldi Nahir.
Meus motivos para nomeá-la a melhor personagem são óbvios, claro. Mas
acho incrível a maneira como uma personagem que na verdade não é o centro da
série consegue mudar todo o enredo de uma forma boa.
Pior personagem: Zig Novac.
Escolher o pior personagem não foi fácil, a série não faz a separação
entre vilões e mocinhos, o que nos leva a ver o lado ruim e o lado bom em todos
eles. Mas o lado ruim de Zig parece estar sempre mais presente que o bom, é
dele o papel do garoto hétero irresponsável e insuportável que vemos sempre.
Classificação:
E vocês, já assistiram Degrassi? Me contem as séries adolescentes que
vocês já assistiram/assistem, preciso aumentar minha lista!
*No blog a classificação de livros, séries e filmes é feita de 0 a 5
cactos.